11/03/01

Rua Monte Alegre, resolvemos que iriamos conversar com d. Luzia da Conceição e Leonor sua filha. Quando d. Luzia apareceu na sala ,pensei que não fosse falar nada, graças a Deus que eu estava enganada., revelou-se uma pessoa simpatica e agradavel. Ela tem 71 anos, teve 11 filhos, hoje só 7 vivos.Ela nasceu no Alamão e se criou em Santiago. O marido mariscava, mais não deixava que ela o fizesse, ficava em casa, cuidando dos meninos, foi chegando logo as riquezas, "fraco quando se junta , arruma logo a riqueza,
que são os filhos, para não dizer que é pobreza". Depois da chegada dos filhos , continuaram a plantar, ela também ia , ele cavava a cova da mandioca, da batata, maxixe,, ela plantava e limpava.Criava porcos, galinhas para se manter., segundo ela , no alto não dava outras coisas, só estas. A farinha era só para comer, nunca fez tarefada, quando a coisa tava pegando, vendia 5 litos da farinha prá comprar café, açúcar e o pão das crianças. Depois que o marido morreu, deixou de plantar."to vivendo da esmola que Jesus deixou". ( a pensão do marido)
O ma rido dizia que ele era que tinha de ir mariscar, que era homem, mulherera prá ficar em casa, o pai tambem nunca consentiu. Ela sempre teve uma vontade louca de mariscar. Agora depois velha fez um jereré, prá pescar siri, os filhos quebraram, tem vontade de ir, mais os filhos não deixa, essa é uma grande frustação de d. Luzia, segundo ela agora também não aguenta mais mariscar, se for vai se emborcar no meio da lama e morrer afogada, morrer só em terra.
Perguntada se ia as festas, disse que era uma dificuldade, hoje em dia é que vê as moças soltas, ainda bem o negócio não tocou, já estão na rua, parecendo tanajura no ponteiro,Naquele tempo os tesoureiros tinha que ir de na casa dos pais pedir para as moças irem para as festas, depois tinham o compromisso de deixa-las em casa de volta. Quando ela pegou a namorar , o pai não deixava. O namoro naquela epoca, era civilizado, hoje tem é falta de respeito, uma imoralidade, na sua epoca, era muito simples, conversava, ficava dejunto, os beijos eram muito curtos. Hoje, é escancarado, se atracando. Ela disse, que mudou até a fonte(onde pegava água ) prá vê o namorado, porque ela gostava do malvado, segundo ela, a fonte era perto de casa, ela "istuciou" de pegar lá na serraria, para ele encontrar para conversar, tudo isso porque o pai e a mãe não queria o namoro, passava 4 a 5 dias sem se vê. Apanhou muito por causa do namorado, ela ficou casada 40 e poucos anos.
Quando era moça, trabalhou na confeção de charrutos, vendia os centros e milheiros. Aprendeu a fazer charrutos com d. Miuda de Agnelo,trabalhava na roça de dia e a noite fazia charrutos, o fumo era comprado em Santiago, este vinha do sertão e de Cachoeira, era vendido lá mesmo, os pescadores quase não fumavam cigarros, era charrutos. Depois que começou a nascer os filhos de d. Luiza, ela parou de fazer charrutos.
Perguntada se ia as festas, e quais, os tipos que existia, disse que antes era baile, quando tinha festa de largo, fazia leilão, e depois tinha o baile para dançar. Seresta é mais recente, d. Luzia não participava de festas, não tinha influência, ela disse que a mãe dela era doente, ela tinha que trabalhar na sua casa, e na da mãe, vivia cansada. D. Luzia casou-se com 17 anos. Sobre a criação de suas filhas, disse que as criou do jeito que foi criada.
Terminada a conversa com d. Luzia, iniciei com Leonor sua filha, de 33anos, 4 filhos, casou-se com15 anos, trabalha dentro de casa. Nunca deu importância parav festa, na verdade não deu tempo.. O marido é pescador, pesca de camaronzeira, quando acontece pegar vende lá mesmo, as vezes não pega nada, depende da maré. Perguntada como fazem quando isso acntece, respondeu que toca a vida prá assim mesmo.O marido planta mandioca, ela não entende nada , nem de maré, nem de roça.
Perguntei-lhe porque casou tão cedo, disse que aconteceu , ficou gravida, não deu tempo de namorar com mais ninguém. Nesta mesma conversa, participou a cunhada de Leonor, mulher de Micô, este faz parte do grupo de Monte Alegre. Micô é pescador, ela disse que não é pescadora,não é, e sendo, as vezes vai para maré, pesca siri, tira ostra, sururu, quem não é pescador? Todo mundo é. Um beira mar tão rico, quando a gente não tem, vai procurar lá, aqui tendo o marisco, só falta a farinha, tendo a roça, não falta mais nada. A vida do seu marido, sempre foi fazendo isso, vai continuar até quando Deus quiser, ele trabalha na rede, esta não é dele, ele pesca para o dono da rede, o marisco que pega é vendido ao mesmo dono da rede. O marisco não é vendido o quilo e sim o litro. O quilo só de camaronzeira, que é mais graudo, este é um trabalho que ele só faz perder, quem ganha, tá em terra, quem tá no mar... às vezes o pescador vai pro mar e pega dois litros. Perguntada sobre namoros, Rosa disse que sempre apanhou dos pais por causa de namorado, mais nada adiantou. Como se diz no interior, quando eles foram namorar na porta acabou o problema com a mãe dela.
Rosa é uma mãe que prepara a filha para viver neste "mundo novo", onde está tudo liberado. Ela informa a filha sobre a menstruação, de como deve se portar nessa época, saber lidar com aquilo que chega depois na mulher.
Encerrei a entrevista cada dia mais convencida da força e coragem dessas mulheres, que lutam ao lado de seus homens para garantirem a sobrevivênca de seus filhos.
Quinta-feira - 08/03/01 - Eu e Felippe chegamos a Santiago do Iguape. Ele porque iria trabalhar na escola Eraldo Tinoco, e eu especialmente para subir o caimbongo, o pessoal teria um encontro para assinatura de um contrato com o INCRA.
Sexta-feira - 09/03/01 - depois de caminhar e ir até o porto e ver os pescadores saírem para pescar, às 8:00hs da manhã, eu e Germano, começamos a nossa aventura. Subimos a ladeira que, nada mais nada menos, tem um quilômetro e meio, paramos para descansar para depois continuarmos os outros três quilômetros e meio. Nesse momento as pessoas começaram a descer, perguntei onde seria a reunião, e me informaram que seria lá embaixo, ou seja, teríamos que voltar. Então descemos. A reunião foi embaixo de uma árvore, à frente da Escola Rural. Encontrava-se a senhora do INCRA que se justificava por ter que realizar a reunião naquele local, segundo ela, o carro não subiu e como os precisados é que tem que sofrer, mandou recado para eles descerem. Vou aqui tentar transcrever o que me foi permitido gravar:
"a CEF desde a partir do momento, vocês vão pegar o papel vão até as lojas credenciadas em Cachoeira ou Santo Amaro, a CEF credenciou lojas para vender material para eles, então vocês vão em várias lojas com a plantinha da casa, vão formar uma comissão. Essa comissão, que deve ser da confiança de vocês, é que vai fazer vários orçamentos e com este orçamento nas mãos vocês vão escolher quais as casas que vão comprar. Na casa grande, vocês podem querer distribuir, mas tem que ser no máximo em duas casas, senão fica muito disperso. Então é o seguinte, aí vocês vão chegar na loja e dizer 'nós vamos comprar nas mãos de vocês, isso, isso...' , a loja vai dar uma nota fiscal em nome de cada assentado, e não em nome da CEF, junto a esta nota, a loja também vai anexar uma declaração, de que está se comprometendo, garantindo a entrega do material. Com esses dois papéis nas mãos, vocês vão juntar com a de todos, já que a comissão vai fazer isso, vão entregar a alguém da comissão para levar ao INCRA, este confere tudo direitinho e vai enviar a Caixa Econômica. Esta, então, vai liberar de imediato porque o dinheiro já está na CEF, de Cachoeira, só que a Caixa Econômicanão vai liberar nada, enquanto o INCRA não mandar toda esta documentação. Aí a Caixa vai liberar para a loja, somente para a loja, o dinheiro. Aí o contador do INCRA vai ligar para alguém da comissão e mandar que vá a loja para ver todo o material. O valor total do crédito é R$ 2500,00, sendo que R$ 375,00 não vai entrar nesta nota fiscal, porque vai pertencer a mão de obra. R$ 2125,00 é para o material. É pouco para a mão de obra, mas o INCRA trabalha com sistema de nutrição, tem dado certo até hoje, tem projeto aí com 150 famílias, com 10 famílias, com 15 famílias, e que funciona, todos com suas casas prontas, da próxima vez que eu voltar vou trazer fotos pra vocês verem, são projetos todos da minha área, são de cidades como Muriti (150 famílias), Amazonas (15 famílias), todos com as agrovilas feitas direitinho". Seu Antônio questionou sobre como é que vai ser então distinguido o valor da mão de obra. "Só depois da casa pronta é que vai ser liberado, então quem trabalhar prá você, tem que ser na base da confiança". Seu Antônio perguntou-lhe onde que ele iria achar isso, da pessoa trabalhar e só depois da casa pronta, receber. Isso é tão ruim para nós, que somos o pagador, como para o cliente. Então ela respondeu que isso "é uma norma da Caixa Econômica, cabe ao senhor aceitar ou não, se o senhor não quiser aceitar, o senhor não aceita, agora este é o sistema". Então seu Antônio falou que "vocês só trazem pra nós é coisa ruim, não traz nada de bom. O material vem junto ou separa lá na loja?" A senhora do INCRA respondeu que a loja não pode vim aqui 68 vezes para trazer um material de cada. A loja vai somar quantos blocos terá que trazer. Disse ainda que seu Antônio iria receber a nota do INCRA individual, mas se a compra dele for individual, o bloco vai ser um preço, se for junto com todo mundo vai ser outro preço. Seu Antônio novamente questionou "quer dizer que vamos dividir aqui?". Novamente a resposta "Não, o senhor vai estar com sua quantidade na mão, porque eles vão tirar uma cópia da sua nota fiscal, o senhor vai saber quanto lhe cabe. Quando o senhor receber, vai pegar seu papel e vai xecar, se não tiver ali, o senhor vai reclamar e exigir". Seu Antônio insistiu: "Quer dizer que é aqui que vamos dividir?"
Logo o INCRA confirmou que sim. Seu Antônio perguntou se cada um iri prestar contas ao CEF sobre sua casa pronta. A senhora do INCRA mais uma vez respondeu: "Exatamente, quanto a mão de obra, infelizmente não posso fazer nada pelo senhor, porque esse é o sistema da CEF, quem não quiser aceitar não é obrigado, ninguém é obrigado a nada neste país". Um assentado alertou sobre um pequeno problema; pois era preciso que uma pessoa da Caixa e outra da loja viessem conferir o material que os assentados tivessem comprando. Então, a senhora do INCRA mais uma vez esclareceu: "Não vai dar problema não, porque se der problema, o assentado de vocês vai ser um problema e vai pular, sabe porquê? Se dentro do assentado não tem uma comissão digna de receber um material simples desse, muito menos valores maiores que virão para outro tipo de crédito". Outro assentado falou que o problema era o acesso para subir o material. Obteve, então a resposta imediata do INCRA: "O acesso vai ser melhorado, vai-se consertar a estrada pela prefeitura. Vamos cobrar isso da prefeitura". Depois continuou "Vocês tem que ver que isso não é um problema só meu para resolver, vocês agora não querem cortar o cordão do INCRA". Perguntado se, por acaso, ele mesmo fizesse o serviço se perderia dinheiro, o INCRA respondeu "Não, você vai pegar seu vizinho, dizer que ele fez pra você e que você fez pra ele, e você e ele vão pegar o dinheiro. Agora, se esse recibo estiver aqui, o presidente e o tesoureiro vão ter que avalizar..
" Por acaso eu tenho minha mão -de-obra que sei, da casa só não sei do chão, do teto prá baixo. Do teto prá cima, faço tudo, no caso se eu quiser fazer tudo menos as telhas, eu posso fazer ? porque aqui a gente tem madeira que tira do roçado. Incra, esse dinheiro tem que ser gasto com material, não pode desviar um real para outra coisa. O dinheiro não vai dar para o acabamento da casa, é uma casa basica. A gente tem qualificação, sabe fazer o trabalho, quer dizer que somos obrigados a comprar lá, porque não vai servir da mão- de- obra da gente, eu sou um cara que pego uma madeira, faço dela o que quero.
O Incra devia se comprometer em dá a casa pronta a gente. Elaine do Incra,ninguem é obrigado a aceitar o credito que a Caixa Economica tá dando, se voce achar que não é vantagem, não aceite, voce espera que quando vier o orçamento do Incra, que vai passar para Associação, agora quando é que vem, não posso lhe garantir. Apartir dai fui proibida de gravar.
Neste mesmo local comecei uma conversa com Antonio Carlos, ela acha bom que as pessoas não recebam o dinheiro, "o trabalhador não tem qualificação para assumir determinado compromisso, tem pessoas que as vezes são expertas demais, quando vê uma grana muito alta, sobe prá cabeçae ai...". Por isso, ele acha melhor, que as coisas sejam como estão, que o dinheiro seja repassado diretamente para compra dos materiais,dificuldades tem demais, espero que os orgãos nos ajude, se as pessoas individualmente tem dificuldade prá chegar lá, imagine o material. A casa de material tem que se responsabilizar pelo frete, o dinheiro do material não há inclusão de frete.
A casa de material tem que entregar dentro de 120 dias, apartir do momento que assinar, ainda tem o problema do tempo.O que estamos precisando agora é assinar o contrato.Depois disso eles tem 120 dias para colocar casa em pé, tem que se virar, são 68 casas, vamos tentar fazer um mutirão, com um grupo de 10 pessoas para não embolar muito.A gente vai procurar formas para o que vai fazer, milagres só quem faz é Deus. Sr. Antonio Carlos acha que precisa do apoio da comunidade, as pessoas estão aereas e começam a fazer coisas desagradaveis, que nem percebem o que estão fazendo.
Seu Antonio falou sobre as mercadorias que descem para Santiago para vender e que os compradores dão preço barato, eles prá não levar de volta acaba deixando , mesmo barato.Só para quem tá dentro , é quem sabe da realidade , a união entre eles, para superar as dificuldades é muito dificil, as vezes entre familia é complicado, nós estamos , nos conhecendo de certo tempo prá cá,dentro do possivel tentam se unir, mais não é facil, são pessoas diferentes, há divergencias, temos que nos adaptarmos a tudo isso, no bom , e no ruim. A terra de seu Antonio , é depois da escola, fica perto do rio da Prata, depois da segunda ponte, ele disse que já teve vontade de desistir, mais se for para a cidade é pior ,para eles e para as autoridades, esta é a realidade.De uma maneira ou de outra , vamos ter que calçar, vestir, comer. Perguntei-lhe como ele vê o apoio das autoridades ao Caimbongo,"enxergando essas coisas e não só se lembrar na epoca da politica, todos nos, precisamos viver todos os dias, não é só na epóca da votação.
A terra de seu Antonio esta plantada. A familia dele não quis acompanha-lo, disse que isso é uma loucura, uma aventura, por pensar deste jeito resolveram continuar em Salvador. Seu Antonio acha que a reforma agrária esta sendo feita de uma maneira inadequada, tá faltando muito apoio ao trabalhador, perguntado sobre a liderança, respondeu que todo lugar existe, mais atrapalha mais do que controe alguma coisa, eles só olham mais seu lado particular, ai o pequeno trabalhador, fica sempre na pior.Perguntei sobre a questão da retirada do Vasconcelos, ele acha que o propio mesmo, vai se trocar, e que a falta de orientação, de conhecimento das pessoas é que leva a tudo isso.
No meio da conversa, chega seu Jacobina dizendo que não estava de acordo pelo fato do Incra (Elaine) não permitir gravação. Disse que depois que foi lá, não achou movimento das casas de acordo, "vai ser uma responsabilidade tão terrivrl, queira Deus, que depois dessas casas, Caimbongo não acabe de cair,eu pergunto, que lei é essa? No dia que nascemos nos já temos direitos, nossos direitos, tá coberto,os politicos cobriram eles, como se levantar uma casa se não temos nem como se alimentar, fazer sacrificio em uma coisa que não pode, arriscado um dia morrer e largar tudo ai,a gente olha no rosto de cada um, vê tristeza, só se vê felicidade onde tem coisa boa. Quando soube que a senhora não podia filmar, já começou a doer as unhas dos pés, até os fios dos cabelos, porque é mutreta".
Seu Jacobina informou que das 68 casas, se uma não for feita fica inadiplente,e outros creditos não virão, todos ficam sem nada eles fazem de uma maneira que um avaliza para o outro,seu Antonio é contra isso, ele acha que cada um é que deveria avaliar por si. Seu Jacobina disse que no Caimbongo, só tem dois pedreiros, assim mesmo um tem alergia a cimento,ele acha que não se pode assinar, sem antes discutir. Segundo ele se fossem iguais ao MST, já teriam jogado uma bomba dentro do Incra para explodir tudo, eles já tomaram conta de nos ,o MST conseguem tudo porque vão lá, é pancada, briga, policia é tudo.Nos estamos lá no Caimbongo daquele jeito, porque somos uns carneirinhos. Ao basileiro tá apanhando na cara, e dizendo que tá otimo, o! Bicho besta.
A casa de seu Antonio Carlos foi feita de supapo(barro), faz um varal, joga o barro, este fica colado na parede, são dois vão, é um quebra- galho, não é mais uma lona preta.Ele acha importante que todos tenham suas casas cobertas e com portas. Ele disse que trabalhou para conquistar seu pedaço de terra, tá trabalhando para beneficiar esta area, é como se fosse um patrimonio que não pode largar mais.É a mesma coisa de qundo o camarada casa e se enche de filhos, e não pode largar a mulher e os filhos mesmo que seja uma coisa cheia de problemas, segundo seu Antonio, separação é uma coisa prá quem pode, "pobre diz que larga e rico desquita". No fundo da tudo no mesmo.

10/03/01
D. Esmeralda Ramos (Mirú), 85 anos e 5 filhos, e um bocado de netos. Antes de ter filhos, ela fazia renda, depois começou ficar atrás do balcão da venda que seu marido tinha, logo depois apareceu a fabrica de caroço(dendê) na Opalma, as crianças já estavam crescidas, então ela continuava atrás do balcão, e as crianças partindo caroço, (dendê) d. Mirú dança na quadrilha, sai no reis, ternos, carnaval, no afoxé, ela até hoje , tem as roupas, sempre empresta para outras pessoas, as vezes vai até para Salvador.É impressionante orgulho que ela tem, de ainda sair de cigana no terno, na epóca de natal. Além disso, bate pandeiro com:joelho, cotovelo, testa, queijo e pé.Ela aprendeu esta arte com uma prima que saia no terno na Saubara.A irmã mais nova dela, não consegue fazer esta arte, segundo ela ,porque tem problemas nas juntas. Perguntei-lhe se gosta de samba-de-roda, respondeu que essas coisas todas ela gosta. Indaguei se não gostaria que voltasse o afoxé, disse que , bem organizado, todas de saia, contas, terço,os toques tudo certo. Porque tem hora que cai umas doidas no meio, bota tudo tudo fora, mesmo a gente tando certo, acaba errando por causa delas. O povo querendo e tando gente sai, novamente.
Informou bastante indignada que emprestou uma saias para Salvador, e ainda não foram devolvidas, disse que tinha muitas contas. Ela citou algumas companheiras que saiam nestas brincadeiras como: Tancinha, Dalva, Moreninha, Ludugera(mãe de Germano),Nêga, e Zezé, ensaiavam e depois corria a rua, todos olhavam, tiraram até retratos, agora não dá, muita gente foi para Salvador,outras morreram. Perguntei se as jovens gostavam destas festas, ela disse que elas só gostam de pagodes.
Ela falou sobre Nêgo Fugido, se pintam todo de carvão, saem com uma corda amarrada pela cintura, vem em uma porta se ajoelha, canta aqueles negócios depois, a gente dá dinheiro, eles pega a dançar.
D. Miru já mariscou muito, tirava sururu, ostra, siri,e pescou muito na beira da praia, no barreiro e nos alagados, pescava e botava prá secar, e mandava para Salvador, e deixava em Santiago,para uso da familia, nunca vendeu, agora não esta mais fazendo isso,chegaram os netos e como ela teve que se preocupar com a escola dos meninos preferiu parar.
Mesmo com esta preocupação, pega na enxada, cava cova, limpa terra, planta roça de mandioca, batata, aimpim. Derrepente a conversa é interrompida por uma vizinha, pedindo uma folhas de coentro da india, ela respondeu "o sol matou tudo minha fia"'.
O marido pescava, viajava como embarcado nos barcos de Santiago para Cachoeira e para Salvador, tirando tijolo,pedra e areia, depois as embarcações, trabalhou também de pedreiro e carpinteiro.
D. Mirú reza de dor de cabeça, dente e olhado, se considera uma pessoa inteligente, se uma pessoa tiver rezando perto dela, logo aprende a reza.Quando ela reza de olhado passa para a pessoa tomar banho de alfazema. A reza de espinhela caída é feita com uma pedra, manda a pessoa segurar a mesma estando em jejum, d. Mirú pega a pedra e guarda, esta não pode tomar tombo porque se não , a pessoa rezada senti onde estiver, só d. Mirú pode pegar na pedra, até hoje ela tem pedra guardada. Segundo ela , quando a espinhela esta muito passada, mata. Perguntei-lhe se foi parteira disse que nunca teve natureza. No meio da conversa Kel pediu para que ela a rezasse, trazendo as folhas verdes, tinha também folhas de pimenta, que segundo d. Mirú, serve para rezar de cobreiro.Ela começou a rezar Kel,"leve tudo para ondas do mar sagrado, com Deus pai,Deus filho do Espirito Santo, Monica te botaram no teu comer, teu beber, foi de magra, ou de gorda...minha Virgem Santissima vos disse que chamasse por vos, de manhã, meio dia , as tres horas da tarde eu vou chamar,Minha virgem Santissima com todos seus poderes, minha Virgem Santissima não deixes Mônica se perder, se houver alguma setência dada, revoltada contra Mônica os passos dela prá frente e prá trás, nada com a virgem Maria e as estrelas coroadas".
Quando o olhado é botado por mulher , os tres ramos murcham, quando é por homem quebram dois galhos.Eis alguns chás indicados por ela, Para gripe: capim- santo com maria preta; pressão alta;chá de carambola; para tosse; chá de capim- santo com um dente de alho;
Perguntei-lhe se ela tinha visto o terno de reis que d. Maria de Laque, fez para os professores que foram conhecer Santiago, ela disse que estava lindo! Não foi porque estava doente, mais ficou com uma vontade louca, "a pessoa doente não tem amigo, fica ali jogada, o reis que ela participava tinha de samba, dança, a roupa era normal, o terno tinha saia, blusa, lenço.A cigana era uma saia bem rodada de chitão, a blusa era aberta de um lado e do outro, o terço todo arrudiado de contas, o pescoço e braços cheios de contas, anaguá bem rodada com bastante goma. As outras era Pastoras, perguntei-lhe sobre as musicas cantadas nestas ocasiões do reis ."Senhora dona da casa , faça favor de cantar, eu chupei um caju peco, pigarro quer mi matar, viemos cantar um reis, como se canta na corte, senhora dona da casa ,Deus lhe dê uma boa noite, senhora dona da casa, passe a mão no travesseiro, acordaí o seu marido , que esta no sono primeiro, abre a porta nobre gente, com prazer e alegria, é nascido Deus Menino, filho da Virgem Maria". Quando abre a porta. "A dona da casa, é boa de dá, garrafa de vinho e docinho de araçá, entrei nesta casa com muita alegria, a dona da casa filho da Virgem Maria".
D. Mirú não perde as missas e procissões que existe na cidade, perguntei-lhe sobre as festas da igreja, então ela cantou "São Roque pediu a Deus, prá lhe todos poderes, para curar as molestias, e o povo socorrer".
Ela criticou que com este negócio de crente, as pessoas não estão frequentando muito a igreja, mais ela sempre que pode vai, acompanha todo terço de casa em casa. Ela disse que assistiu a missa para Mario Covas, no programa do Ratinho.
O pai de d. Mirú, tocava sanfona, o vizinho violão, quando o pai ia para a festa, levava ela e as irmãs (Branca e Dália) para cantar e dançar, nesta epóca era a valsa, ela disse que só não dança essas coisas de agora. Ela vem de uma familia festeira, por isso, até hoje ela adora festa, destacou muito a valsa , como a coisa que mais gosta.
Perguntei o que achava de como as moças se vestem hoje, disse que as netas se indireitam todas, com tudo de fora, e vão dançar, ela não gosta destas festas que se remexe, se treme toda, no seu tempo, quem era que se vestia com essas roupas? Os vestidos eram abaixo dos joelhos, não tinha esse negócio de short, calças; esta,só os homens as vestias , as moças não. Quando as meninas se perdiam, eram um fenômeno, eles casavam logo, não ficavam assim como hoje. D. Mirú gosta de vestido abaixo do joelho, não gosta das pernas de fora,
os pais nunca deixava usar roupas apertada.
Os namoros daquele tempo, era com cartas, bilhetes, hoje em dia, se não tiver atracadinho... antes sentava o namorado de um lado, a moça de outro,e o pai no meio, só via o namorado de 15 em 15 dias., não ficavam só em nenhum momento, na hora de ir embora, beijava na mão. Quando uma moça fugia de casa com um rapaz, era um fenômeno, ficava trancada dentro de casa, durante sete dias prá ninguem vê.Hoje esta tudo mudado, as meninas ainda bem não saiu da casca do ovo, já estão de namoro, outras com filhos.Ela disse que só teve 5 filhos porque antes os partos eram feitos por parteiras, não tinha esse negocio de ter filhos com médico, hoje só tem tantos filhos quem gosta, disse também que não se tomava chá para perder filho.
D. Mirú trabalhou fazendo charutos, tinha uma produção por dia de 200 a 250. Fazia charutos comum e de meio bujo, aprendeu mexer com fumo, desde os 11 anos. Fazia também renda de birro, ponto de cruz, aprendeu na Saubara, disse toda faceira que se


quiser ainda faz.Deixou de fazer charutos, porque não tem quem venda o fumo.
Ela informou que faz rede de cordão para pescar. Ela faz todo processo da mandioca até chegar ao final que é a farinha pronta.
Para quem nunca mexeu com estes trabalhos braçais como: fumo, mandioca e outros, d. Mirú administrou sem saber uma excelente aula, com seu livro da mente e sua história que para mi, é mais uma lição que trago para casa, vou aprendendo, não para me tornar uma d. Mirú, por achar que o aluno, nunca chega a ser igual ao professor, mais lembrar sempre, que o ensinamento, dos sábio, n~ao se resume nos livros, e sim no sofrimento, alegria, simplicidade, humildade, ou seja, na vida.

17/03/01

Cheguei a rua mais famosa do lugar, talvez pelo "apelide" que temaram em botar " rua da xereca". Esta tem o nome oficial dado pela prefeitura (rua do Tanque), lá conhecemos Val e Dudu, ela com 44 anos, ele com 38anos, 9 filhos. Nesta rua todos são pobrerrimo, o casal em questão, passam juntos com os filhos a semana toda acampandos no manguezal para mariscar, retomando sexta a noite para Santiago. Ambos lavam ao sabado fato para os
açougueiros recebem por este serviço 7,00 (sete reais), independente do tamanho do fato.
Enquanto ao preço do kilo do marisco, este é vendido por 3'00 (tres reais), Que muito mal dá para comprar açúcar, farinha, café e carne -de-sertão, o feijão fica onde ? Quando pedimos para aumentar o kilo para 4'00(quatro reais), a resposta que obtem é que não tem condições. Val falou que vai para o Massapé na Campina, buscar um centro de limão para vender por 1,50 (um real e cinquenta centavos), vem com este peso na cabeça. Ela disse que vive lá porque não tem jeito, se achasse um lugar, mesmo para trabalhar na roça, sairiam de lá. Ela disse que não fala mal do Santo , e nem da maré, fala mal dos vendeiros (os compradores de marisco).
Vamos falar um pouco sobre a experiência de vida de Aderbal Almeida Bulcão , apelidado de Dudo, este foi soldador, maçariqueiro, policial, saiu porque , segundo ele, não era de acordo com as judiações que era obrigado a fazer com os outros, e que fez muita maldade.
Hoje esta arrependido. Agora é trabalhador rural, trabalha com machado, foice, na roça, é meio oficial de pedreiro, foi ajudante de eletricista. Ultimamente vive da maré, de onde tenta arrumar o pão de cada dia, não existe outro trabalho a não ser em uma fazenda, é dificil, só para quem tem conhecimento, como ele é praticamente novo em Santiago, só resta mesmo é a maré, tirando ostra, siri, sururu, carangueijo. Os mariscos são vendidos em Santiago, por: Ostra 3,00(tres reais); sururu 2,50(dois reais e cinquenta centavos; carangueijo catado 3,00(tres reais); aratu 3,00(tres reais); siri 5,00(cinco reais).
Para pegar miró e camarão só para quem tem rede.
Por semana pegam 4 kilos de ostras; 3 kilos de sururu; siri 2 kilos; todos juntos dão em média de 30,00 a 40,00 por semana. As vezes quando Val vai pescar no riacho é que acha siri, faz 2,30 kilo no dia, vende para Dino, Grosso e Jaime. Reclama do preço que compram mais não tem condições de sair para vender fora. "Quando se marisca juntando, como eu faço, dá prá conseguir juntar algum dinheiro. Quando se marisca todo dia vendendo, não dá para faturar um conto, porque na mesma hora que acaba de catar, chega na venda e deixa , vai comprar o que tem de comprar."
O carangueijo arranca, cata, e manda prá venda, vende por 3,00 o kilo, a corda na rua é 2,00. Só consegue vender por 2,50 para pessoas de fora.
Dudu antes morava na Opalma, em um povoado chamado Horta, vivia de serviço rural, vendendo o dia para um e para outro, caçando, pescando no rio de água doce e botando armadilha no mato para sobreviver, e Val trabalhando na enxada por dia para ganhar 2,00 a 2,50.
Val quando era pequena ficava com o pai fazendo carvão, depois ensacava e (…), levava para Cachoeira, cada um ficava em um ponto vendendo as latas, isto toda a semana, ela também cortava a madeira na mata junto com o pai, a mãe de Val teve 22 filhospor isso não podia fazer trabalho pesado. Ela também trabalhou na Capanema podando cacau, bananeira. Val nunca gostou de festas. Disse que só levava os filhos para espiar, se tivesse condições de arrumá-los direitinho, para ir maltrapilho. ''Tem mulheres aqui que largam os filhos e vão, mais eu não deixo meus filhos por nada, até pra maré que vou levo para não deixar só''.
Para os filhos irem para a escola, Val terá que ir mariscar e voltar para Santiago. Ela quer os filhos estudando para se formar para ser uma pessoa direita. Perguntei a Val se ela não estudou, respondeu que a mãe botou no colégio mas ela só foi para quebrar a cabeça dos outros, brigava uma coisa terrível, todo dia apanhava, quando era no outro dia aprontava pior. Atacava os meninos e metia porrada. ''Na escola não aprendi nada, nem assinar meu nome, mas bater aprendi''. Até Dudu já levou a prova da valentia de Val, ele foi brigar com ela, ela panhou a faca, ele botou a mão e a faca entrou, deixou marca até hoje. ''Mãe disse que eu não ia aprender nada da vida, só bater, respondi pra que melhor''. Os meninos vinha de capoeira, não pegava um pé nela, ela se defendia com cipó, até que a mãe disse que a partir daquele dia, ela não iria mais ao colégio e ela deu graças a Deus e todos os outros irmãos estudaram. Só ela e outro irmão não quis. ''Minha mente não era de estudar, só de bater''. Dudu disse que tem até medo de alguma filha puxar a Val.
Voltando a rua da Xereca, perguntei quem botou este nome, disseram que foi Inguí, o capoeirista, segundo Val, tem um recibo com o nome de rua da Buceta.
Dudu faz remédio para asma com o couro do jacaré. Na lagoa longe consegue. Tem o do papo amarelo e o do preto. Ele pega com a isca do fato, com anzol e linha. O (...) mata de facão. O tamanho é da altura de um homem. O que ele encontrou foi o de papo amarelo, só a carne dele pesou 28 quilos. Ele vende a carne, dá para alguns vizinhos e deixa para os filhos comerem. Segundo Dudu, ninguém conhecia a carne do jacaré de como é feito o remédio, é feito pelo couro, não pode explicar porque a filha tinha tomado e estava presente, quem tomar este remédio não pode saber como se faz. Se souber volta tudo e nunca mais fica boa.
Faz remédio para mordida de cobra, este é feito com o próprio veneno dela. Tem uma folha chamada de angico e o juá verdadeiro, tem que pegar a casca na época que a lua está forte, juntar o São Gonçalinho de formigueiro para fazer a garapa para aplicar na pessoa, segundo ele, é mais forte que o soro antiofídico. Eles vão acampar, cava buracos fundos, uns paus cobre em cima com plásticos pretos, o chão coloca uma lona, leva um lençol e dorme assim mesmo. ''Val, me sinto muito bem quando está lá, aqui é uma infernação''. Perguntei se era as crianças, ela disse que muito mais são as mães, as mulheres enche a cara de cachaça e aí começa a falar coisas deles.
Perguntados porque que a rua chama do Tanque, onde tem o muro porque era onde a maré represava, dizem os antigos que era o porto do navio. Eles vinham, encostavam, tem até umas argolas grandes, é coisa dos antigos. Perguntei-lhes se nunca ficaram bêbados de ninguém fechar a porta. Val disse não, que pode beber três litros por dia, mas bêbada não fica. Ele fica. Ela disse que ainda não viu cachaça para embebedá-la. Vai para maré, leva meio litro, bebe sozinha, quando chega vai catar os marisco, compra mais meio litro fiado, bebe até terminar de catar os mariscos. Quando manda vender, já vem meio litro. Não perde um dia de trabalho por causa da bebida. Pode ter o trabalho que tiver para ela fazer. Agora, se não tiver a cachaça dela não vai lá, funciona só com cachaça e cigarro, esquece até de comer.
Val, uma mulher alegre, disposta, firme ao falar, trabalhadora, valente na questão viver… Se todas as mulheres que vivem em condições contrárias a de Val, tivessem preocupação por pessoas como Val, estas estariam com uma vida digna de um ser humano.

17/03/01

A noite fui conversar com uma pessoa que é a referência quando se fala em festas em Santiago. Dona Maria Reis (Lac), 73 anos, teve 15 filhos, hoje 9 vivos. Trabalhou 8 anos na (…), fazendo charutos. Aprendeu a fazer em Santiago com as pessoas mais velhas. Também trabalhou em Cachoeira, selando charuto, colocando nas caixas. Fazia ternos, comédias. No Sábado de Aleluia saía anunciando. O terno saía mesmo era no Domingo de Páscoa. Eram dois ternos: um da rua de cima e outro da praça, era uma briga terrível. Cada um queria ser melhor do que o outro. As roupas eram feitas às escondidas. Nem a ponta da linha se encontrava na rua. Quem tocava no dia eram os conjuntos de Cachoeira, Muritiba e São Félix. O da praça saía primeiro do que o outro. Era uma folia. Daí, saía cantando:
''Vamos a Belém, pastora, ver o nosso santo bem, hoje é grande romaria, na Lapinha de Belém, de Belém. Nós que somos pastorinhas que saiu a passear, na Lapinha de Belém, os três reis eu vim saudar''.
''Minha senhora Santana, vim lhe dar os parabéns, é nascido Deus Menino, na Lapinha de Belém''.
Porta estandarte canta na roda. Cada ano ela fazia uma representação. Nunca mais pôde fazer. Agora, ela acha mais fácil para fazer. Antigamente não tinha dinheiro para se comprar as coisas.
Tem os três que canta primeiro, quando corre a rua toda, e chega na Lapinha onde tem o presépio armado. Segundo Dona Maria, disse que em Salvador faz terno mas ela não acha tão bonito como era em Santiago.
Ela fazia também o terno de dia. É diferente. Sai dançando pela rua, tem porta-estandarte, guarda-de-honra, duas meninas que sambavam muito, levando bouquet de flores, tinha até rainha que saía em carro aberto.
As festas da igreja de Nossa Senhora da Conceição, Lavagem da Igreja, a festa de São Tiago, a de São Roque, era procissão todos descalços para penitência, era simples. Conceição tinha novena (9) no último dia terno. Hoje, só resta a novena. Em 2000, saiu dois São Roque. Na procissão, na semana antes de festa de São Tiago, tinha acompanhamento, São Francisco para Santiago, as canoas todas embandeiradas na frente e atrás os barcos com São Tiago; o pessoal vinha rezando. A Esmola Cantada era feita para arranjar dinheiro, para pagar conjuntos, comprar flores, bandeirolas. Elas saem com uma imagem da santa da festa cantando e tocando de porta em porta. Dona Maria disse que o candomblé não entra na cabeça dela, tem medo.
Seu Aniceto (Sinhozinho) fazia caruru para São Roque, era uma beleza. Ele deixou. Nunca mais acompanhou São Roque. Dona Maria reforçou que o comércio de Santiago era muito forte. Matava muito boi. Tudo se acabou.
Maria ia para Cachoeira de canoa grande, com vela. Na época de troovoada, esta só faltava emborcar. Ela disse que hoje não anda de jeito nenhum, pois já viu a morte de tantas vezes com crianças pequenas para receitar.
Dona Maria teve 4 filhos que o parto foram feitos por Dona Lalu. Tinha também seu Erasmo que pegou várias crianças das redondezas. Dona Maria até hoje continua promovendo as festas que ainda acontece em Santiago. O interessante é que Dona Maria não sabe dançar no samba de roda.

18/03/01

Áurea Araújo de Jesus (Linho, 46 anos, 6 filhos). Para ela, antes Santiago não tinha movimento. Agora, já tem. Tem água, luz, tudo já tem. Ela gostava de samba, hoje está na lei de crente.
A mãe de Linho era mariscadeira, o pai era roceiro, não gostava muito de maré, a mãe sempre levava os filhos para a maré. Linho até hoje marisca, cata ostra, sururu, siri, caranguejo. Vende em Santiago. O quilo de sururu é 3,00; ostra 4,00; siri 5,00. Dois filhos dela são pescadores.
Ela vai todos os dias mariscar. O horário de mariscar vai da maré; tem maré de 5 horas, outras vezes, 10 horas. A volta depende de quando sai. Se for 5 horas, sai 10 horas, às 3 está em casa. Perguntei se já voltou sem nada: ''A gente nunca vai pra maré pra voltar sem nada. Alguma coisa a gente tem que trazer''. Ela sabe remar a canoa, mas não sabe governar.
Ela trabalhou na roça para ajudar, plantar, roçar. Só plantava mandioca, aimpim, batata, para vender e comer. Ela sempre morou na Monte Alegre. Segundo ela, falta muita coisa para Santiago ficar melhor, como: rodagem, calçamento, principalmente a rodagem. Falta farmácia, não tem médico, dia de domingo o posto está fechado. Ela acha que as pessoas têm que se juntar e exigir, mas quando muitos pensam assim, outros já nào querem. ''Estudei um pouquinho depois de velha''. Os pais não a colocaram, a levava para a roça e para a maré. Naquele tempo era difícil colégio. Depois de mãe de filha foi que ela resolveu aprender, pelo menos a assinar o nome, foi para o colégio à noite e aprendeu. E este ano, vai estudar de novo.
Linho quando casou tinha 17 anos. A mãe dela com 12 anos teve a primeira filha. Teve 16 filhos. O marido dela antes saía para fazer as festas mas não deixava ele sair.
Trata, bota o sal, deixa ficar um pouco, espalha, bota no sal, deixa para secar. Leva dois dias secando, depois come em verde. Ela já fez muita moqueca de folha. Pode ser feita com mirim, xangó, langudinha (fica melhor). O tempero é pimenta, coentro, limão, sal, cebola, azeite de dendê, coloca no peixe e na folha para dourar, é uma delícia para tomar com café. Ela disse que gostava de comer farofa de café com carne de sertão assada. Hoje, que não pode mais por causa da pressão, a mãe de Lio trabalhava com azeite de dendê. Lio era quem carregava água para lavar. Ela pode não ter feito, mas falou todo o processo. Batia o azeite, cozinhava o dendê, pisava, botava em bacia com água, e ia fazendo azeite, botando na panela, vai tirando a espuma, vai pegando botando na panela, depois que acaba de fazer, bota a espuma no fogo, ela ferve e vira o azeite. O cateté fica no fundo da panela e o azeite em cima. Com o cateté bota no fogo com aroeira, alho, sal e deixa lá, até secar. Depois disso, faz uma farofa. Fica uma delícia (cateté é a barra do azeite). Segundo ela, Chamenga fazia o azeite e fazia o cateté, o escaldado de siri com quiabo, escaldado de caranguejo de aratu, escaldado de siri inteiro de mangue. Lava bem, bota no fogo com quiabo, tempeiros, verdura. O aratu não (…) bota azeite quando ele está gordo.
Gerê joga para pescar o siri. Lio marisca na lama, leva o facão e a vasilha, vai tirando o sururu da lama.

Domingo Barbosa dos Santos, Chamenga, 72 anos, 16 filhos.
Saiu de Santiago para Cachoeira procurando um barco para viajar. A primeira embarcada que pegou foi de (…) para Salvador. A profissão de Chamenga era embarcadiço do mar.
O perfume que Chamenga usava chamava-se Narciso Negro. Botava na roupa durava 15.
O Chamenga foi morar com Paulo Rangel aos 14 anos de idade. Tudo era com ele: ''a gente tem que ter moral, pensamento e alegria na vida''. A mulher de Chamenga teve problema de coração, ''tensão'' e diabete. Quando a mulher morreu, ele ficou 6 dias sem comer em Salvador e 15 dias em Santiago, ''ninguém morre de fome''. ''Amor é feito de amizade. Tem muitos que tem mulher e não sabe o que é mulher, vai pra rua procurar outra esquecendo a de casa''.
Pescou muito. Saía 4 horas da tarde, pescava sozinho. Apanhou peixe que para trazer para casa, tinha que ser de duas vezes. Uma vez pegou uma arraia na linha que não conseguiu pegar sozinho, tava com o cofo cheio de muruaçu (peixe). ''A vida é trabalhar. Quem trabalha, a bariga enche; quem não trabalha, a barriga fica vazia''. Além de pescar, Chamenga também trabalhou na roça.
Naquele tempo não tinha geladeira. Ele comprava 5 quilos de carne de boi, muquiava a carne toda (botava no fumeiro como que seca camarão), quando ela tirava o seio para dar de mamar para criança parecia uma bomba d'água jorrando, de alimentada que estava. Hoje, os pais de família não tem mais nada para dar a elas; o escaldado era feito por ele, a carne bem cozida.
Chamenga vendia os peixes que pescava por dois mil réis o quilo. Segundo ele, os filhos dele são trabalhadores. Hoje os pais e os filhos são desordeiros, dão maconheiros. Perguntei se tinha maconheiros, ele disse que as vezes chegam mas não ficam, que a galera mata. ''Todos aqui são pescadores. Chegam 11 horas da noite, 2 horas da madrugada, malandro vai ficar fazendo o quê. O pessoal bota pra fora''.
Chamenga tinha três redes e duas canoas, hoje tem uma rede e uma canoa, que os meninos pescam com elas.
Em Cachoeira, tinha água doce. Quando fez a Pedra do Cavalo, a água diminuiu. Por isso não tem mais fartura de peixe em Santiago. Antes, ninguém dava conta do peixe que se pescava, jogava de novo na água. Era dificuldade para dar, ninguém queria. Antes tinha 40 embarcações, tudo indo para Salvador, levando maxixe, quiabo, jiló, madeira, pedra, tijolo, estas acabaram depois da estrada. Segundo Chamenga, o ônibus de Santiago para Santo Amaro dá uma renda medonha. Ele sobe cheio e desce cheio. ''Os filhos de Santiago tem obrigação de chamar a senhora que tem conhecimento em Salvador. O pessoal daqui não tem filosofia. A senhora vai pegar um peso, a senhora tem que pedir alguém pra lhe ajudar''.
Quando os filhos chegam com poucos quilos de camarão, ele disse que se sente acanhado, pelo que era a pescaria. Eles chegam dizendo que não fizeram nada hoje, ele responde: ''é a situação da vida''. Hoje, provavelmente tem muita gente para comer. Naquele tempo, tinha só 40 casas.
Chamenga fazia azeite. Pegava o dendê, deixava despencar e colocava para cozinhar, pegava o dendê e pilava no pilão, depois botava água e batia com a mão, ele subia todo. Ele pegava com a mão e colocava na vasilha, aí ele sacudia mais de 20 minutos e botava na panela. Escorria para tirar toda a água, voltava para o fogo, depois de cozido botava para esfriar, para encher as vasilhas, o cateté ele botava para as galinhas comerem. Também servia para botar na comida, na moqueca. ''Tem que ser bem temperada, colocar folha de aroeira pra dar o gosto. Se a senhora comer o que eu faço, a senhora fica parada''. Ele fazia 10 litros de azeite por (…) para comer e mandar para os filhos na ''Bahia''. Ele parou de fazer depois que a mulher morreu.
As festas eram boas: a de São Tiago, Senhor do Bonfim, São Benedito. Depois que os tesoureiros morreram todos, só restou a de São Pedro. São Tiago era um festão, com bandas de música. Festa de São Roque é boa em São Roque do Paraguaçu. No acompanhamento de São Tiago, tinha embarcações, todas enfeitadas, passava em São Francisco e na Ilha do Capim. Dizem que São Tiago nasceu na (…) (apareceu lá) depois que as embarcações acabaram, acabou a alegria. Era uma alegria. Hoje, São Tiago corre a rua em procissão.Hoje ele é tristonho, porque quem era ele? Fica até coitado, pesaroso. Até a pescaria saiu mais para passear. Tinha devoção com Iemanjá. No dia que botav ao presente, no outro dia a canoa não agüentava de peixes. Hoje, não coloca mais presente. A moça que botava morreu. São Tiago é o dono da cidade.
Chamenga levava três dias dançando, marcha, samba etc. Participava dos Reis às doze horas da noite. Cantava na porta até as pessoas abrirem. Perguntei se tinha carnaval. Não tinha. Era Ternos: o Ideal e O Primeiro Nós. Eram oito dias dançando. A porta estandarte chegou a morrer estafada. A mulher era doida. Tinha 3 bandas de música. Vinha de Saubara, Acupe e Cachoeira. Hoje, os jovens não sabem cantar casas, não sabem o que se passa no mundo.
São João era bacana. Depois que começou o São Pedro, abandonaram o São João. Era de casa em casa dançando. A festa de São Pedro só tem um cantor que é Virgílio.
O namoro era a moda antiga. Hoje, as moças sentam no colo do namorado na frente do pai. As roupas das moças era no tornozelo; hoje, as bermudinhas. Hoje os homens não querem nem mulher mais. Está muito fácil. Hoje não pega quem não quer. Ele disse que se fosse novo, hoje, ele ia morrar apagado.
Ele disse que (…) não é (…) como ele tinha costa de mulheres não era oculto. Eram poucas mulheres. Os mais velhos iam. Acabou. Hoje, só tem quebra galho.
Chamenga era cozinheiro da embarcação, por isso ele cozinha tão bem. Fazia feijoada etc. Tinha dias que fazia 900 mil de comida na lancha.
São João, Natal, Semana Santa, a lancha vinha com 400 pessoas.
Nós do projeto já experimentamos o feijão de Chamenga.

Neste mesmo dia conversamos com um jovem de 23 anos, apelidado de Germo, este dançarino do grupo de dança Afro Vale do Iguape. Não teve juventude, nasceu e foi criado na beira do mar, a mãe tem o juizo fraco, ele acredita que qualquer um é capaz para vida, pode fazer qualquer coisa. Sempre mariscou, saia para a maré sem ter hora prá chegar, nem prá comer. Quando voltava da maré, ainda tinha que catar marisco, ferventar, para depois vender. Todos em sua casa mariscava: ele, mãe e irmãos, o dinheiro muito mal dava para comprar o café da manhã e da noite." As vezes tinha farinha, e não tinha o que comer." A mãe era muito orgulhosa, não queria os filhos pedindo , nem ninguem dando nada, se tivesse que morrer de fome, morreria os quatros. Não pedia nada. As vezes catava marisco triste de fome, a mãe deixava comer um pouco do marisco, mais não podia ser muito para não desinterar o peso, porque era prá vender.
O primeiro mandamento de ensinamento da mãe, era saber respeitar as pessoas. O Germano sempre foi discriminado, não só pela maneira de ser, mais por não ter roupas,
estas eram lascadas, amarrada na cintura, quando ia as festas, era tratado mal, segundo
ele, a discriminação era vista nas faces das pessoas, vinham com a bandeja de doces, não deixavam ele pegar, hoje, lembrando tudo isso, doi mais doque antes.
Muitas vezes passou fome, as vezes comia escondido na casa da avô, mais ficava preocupado com os irmãos que estavam com fome, não podia levar um pouco para eles, porque a mãe lhe cobria de porrada, querendo saber onde comeu, e ele já estava cansado de apanha. " A minha mãe é uma mulher, apesar de tanto orgulho, a mente ser fraca, mais é um exemplo. Não só em Santiago,é um exemplo de vida de tudo, eu tenho orgulho de minha mãe."
Não gosto que as pessoas falem dela, só eu posso julga, ela mostrou-nos o que é a vida, com todas as dificuldades, talvez se eu tivesse um pai, e uma mãe, não seria a pessoa que sou hoje."
Quando iam para a maré levava o irmão menor, quando a fome apertava, o menino começava a chorar, era dado-lhe uma mamadeira feita de farinha com água para tapiar o estômago.
Germano e o irmão , catavam castanha para vende. Por ser o filho mais velho, era quem mais se dedicava a mãe, todos trabalhos que ela ia fazer, ele estava perto para ajudar.
O Germano caiu do jegue, quebrou o braço , todos fecharam as portas , em vez de dar-lhe socorro, tudo isso por causa de sua mãe, a única pessoa que deu ajuda foi a professora, a vice-diretora do colégio Eraldo Tinoco, foi esta mesma pessoa quem levou o Germano para escola, lápis, farda, livro, tudo escondido da mãe dele que não deixava estudar. Até a quarta série, este estudou sem documentos, registro só veio ter quando estava com 16 anos, hoje ele mora na casa dos padrinhos, sua vida melhorou muito, esta no segundo ano do segundo grau, o sonho dele é fazer vestibular para dança , na Universidade Federal da Bahia.
Segundo ele outra coisa boa, foi ter sido convidado por Rosenaide para conhecer o grupo de dança afro, antes ele era voltado para o pagode, tinha o grupo Visual, que todos os sabados e domingos, divertia o povo, ele se achava um dançarino.Quando Rosenaide deu uma demonstração da dança do grupo, ele começou a criticar, na verdade, ele não sabia o que era dança afro. Ele foi conhecer, acabou ficando até hoje. '' a minha infancia, adolescencia, foi um sofrimento.''
Quando conheceu Ananias ficou todo desconfiado, depois de alguns dias dançando, já foi premiado, passando para frente. A dança afro foi primeiro eixo artistico da sua vida. Porque não dizer principal, aprendeu muito,se considera melhor do que antes.
'' Quando as pessoas pegam muito no seu pé, é porque tá querendo o seu bem''. (Isso é relacionado a Ananias), ele tem muito carinho pelo professor, que educa todas as pessoas do grupo. Surgiu o grupo de teatro chamado Semente, ele foi convidado por Edson, que deu muito apoio,este foi discriminado mais uma vez,na quadrilha do grupo Raízes que mais uma vez as pessoas o discriminaram, a única pessoa que lhe defendeu foi Nelsinho, todos não o queriam.Mais com a força de vontade que sempre teve, e com o apoio de Lena, dizendo que : '' voce tem que aprender a desafiar, em cima da humildade, ser humilde sem dá o pescoço para ninguem montar em cima."
Ele participou do Gremio Estudantil, com tesoureiro, adiquriu muita experiancia com isso.
O Germano disse que tem muita gratidão pelas pessoas que muito contribuiram para que ele podesse chegar até então. Com Iacy, ele chegou na parte da religiosidade, foi na casa dela que ele teve o tombo (manifestação de orixá). Este é de oxossi com oxum, depois ficou sabendo que tinha o jeito desmuencado, porque oxum estava de frente,e que este estava brigando para tomar a frente, este teria que o Bori, para firmar(oferecer frutas para os orixas, e ficar sete dias no quarto).
Germano falou sobre as aquizila de alguns orixas:
Oxossi: banana e sapoti;
Oxum: seriguela
Obaluae: carangueijo.
Agora segundo ele o candomblé não lhe interessa mais, hoje esta estudando o evangelio Alan Kardec. Ele se considera uma pessoa curiosa, acha que tem que colocar o lado espiritual a frente de tudo.
" Voces foi quem me colocaram o conhecimento geral, porque voce não esta fora do contexto, adquirir muitas coisas com voces, e tambem com as pessoas que aquim moram, até meu avô eu não conhecia, não sabia o que fazia, vim conhecer coisas e pessoas que

não conhecia." Ananias junto com o pessoal do grupo foi fundamental, para sua vida.
Segundo ele, quando soube que tinha o pessoal da Ufba, querendo vê o ensaio, ficou doido, sem saber até o que vestir. Fica satisfeito pelo carinho, amizade, vindo do pessoal do projeto, talvez por não receber isso da comunidade local. " alguns estão me chamando de lambe-moiô, puxa-saco, não ligo, porque na vida profissional tem tudo isso."
" Sempre tive vontade de fazer vestibular, agora com voces, tenho ideia do que realmente é, voces é um eixo principal na parte do conhecimento na minha vida, quando as pessoas me falam as coisas, eu boto embaixo do travesseiro para depois aproveitar."
Pois é Germano, gostaria que todos meninos pobres, tivessem esta garra como voce,


talvez a miseria , o desrespeito com o ser humano, fosse menor, o importante é não se

conformar com a vida que nascemos, temos que lutar para mudar a vida que nos oferecem

21/03/01
Reunião da Comissão de Justiça e Paz (CJP nas pessoas de Adriana e Hemilson com 32 assentados do Movimento de Luta pela Terra (MLT).
Os pontos a serem discutidos eram: moradia, produção, escola, estrutura minima.
Passaram a dar as informações da reunão que tinha sido feita pelo INERA. Construção das casas que tem que ser credenciada pela caixa. A estrada foi solicitada pelo INCRA, mandaram o engenheiro para opinar sobre as condições da mesma, este disse que a ligaç!ão Santiago x Caimbongo, não é possivel, teria que fazer o aceso por outro lugar. Acasa poderia construir em grupo. O Incra prefere agrovilas, mais não é obrigado .
Segundo informaram, a ladeira pode ser recuperada, é só depende dos assentados, contribuir com 20,00 a 50,00 , para comprar caminhão de pedra bruta. O dr. Bahia, vem ensinar como fazer a ladeira.
Para a CEF, é considerada a casa construida: levantada, coberta, com porta, janela, pia, um vaso sanitario. Segundos eles o pior é o acabamento da casa como: reboco, piso, lage, lajota, hidraulica, é onde se gasta mais.
Sr. Antonio esta preocupado de como serão contruidas estas casas, algumas pessoas não sabem como fazer, tem o problema da mão- de- obra, problema de locação, tem lotes que não dá para fazer casa , porque é despenhado, até para fazer um barraco é dificil, imagine uma casa , por isso tem que se discutir como vai ficar estas pessoas que tem estes terrenos.
Enquanto a mão -de obra, informaram que recebem o dinheiro para este fim depois das casas prontas. Por exemplo: se trabalhar em mutirão de cinco, eu assino pelo companheiro e vice-versa, então vão a Caixa, e recebe o dinheiro. O importante é construir, tem muita gente que esta visando o dinheiro e não a obra, Hemilson, chamou atenção, que falta 120 dias para contruir, mais só é pra valer no dia que o Incra falar pra Caixa que valeu. Para esta soltar o dinheiro da mão-de obra, eles vem verificar se realmente esta pronta.
Denunciaram que o Vasconcelos saiu prá tirar nota, levando o livro de ata, segundo alguns, ele tem permissão total, porque estes alguns assinaram o livro de ata, ele pode ir ao Incra e pedir liberação credito. A reunião da CJP, tinha sido marcada com um mes de antecedencia, o Vasconcelos na vespera, fez esta reunão, saiu colhendo assinaturas mesmo das pessoas que não estavam na reunião, saindo de casa em casa com o livro de ata. Com estas assinaturas ele pode ir até Cachoeira negociar com os depositos, trazendo as propostas das casas de materiais. Dai começaram as discussões entre eles, uns a favor do Vasconcelos, e outros contra. Clara uma jovem senhora, disse " um livro de ata pode botar qualquer um de nos pro inferno, aqui dentro este livro de ata do jeito que ele esta ai, não tem credibilidade nenhuma, porque ele aqui não é respeitado."
Sr. Jacobina, nossos colegas assentados, não carregam uma folha, não contribuiem, as vezes a gente, pede 0,50 (cinquenta centavos) para se deslocar, para fazer alguma coisa, eles não aceitam.
Sr. Antonio Carlos, uma pessoa equilibrada, experiente, consciente dos direitos dos assentados disse: ''É melhor que todos se reunam, e quando chegue na hora e desmanche aquilo, o que esta errado, na reunião do dia anterior, ficou a maioria sem participar da reunião, essa maioria poderia ser contra ao trabalho que foi feito ontem, não veio a reunião, foi valido, porque não teve ninguem que impugnasse."
Abriu-se uma discussão entre Clara e Wilson que mais uma vez saiu em defesa do Vasconcelos.Segundos eles, Vasconcelos vai por interesse dele, explicaram que para se deslocar para Cachoeira, gastam 20,00 (vinte reais), O Hemilsom questionou o porque de Vasconcelos não arrumar condições para que outra pessoa tambem possa ir.
Ainda nesta reunião saiu que o Vasconcelos, tinha o custo de vida pago pela Prefeitura de Cachoeira, só vieram descobrir isto porque uma familia de Caimbongo, foi a Prefeitura pedir uma cesta basica, obteve a resposta de que esta ajudava o Vasconcelos, até motel era pago para ele.
Hemilson quis saber com quem estavam se relacionando, se era com a associação, ou grupos de pessoas.
Na fala do tesoureiro da associação, ficou acertado que daquele dia para frente, fariam reuniões, para esquematizar, tirar pautas e quando a CJP, vier com eles, é já para discutir e aprovar.
Hemilson comentou: " é presidente que faz a ata, é ele que compra, tem alguma coisa errada,Vasconcelos podia esta nesta reunião discutindo. A CJP sugeriu que fizesse uma reunião entre eles, para decidir qual é o acompanhamento da CJP, se é associação ou não, se não o que é.
O Incra diz que o Caimbongo já esta no PDA (Plano Anual de Financiamento), só que lá, não existe nenhum projeto dos assentados do Caimbongo.
Um técnico agricola, um agronomo, credenciado pelo Incra, poderão marcar uma estada com os assentados. Até 30/03/01, teriam que esta habilitado para sair credito, isso significa que tem que saber se é associação ou grupo. depois ir ao Incra habilitar, indicar um profissional técnico que vai fazer o projeto deles. Não é preciso ter o projeto pronto. O técnico é quem vai fazer o resto( analisar) o terreno, e o que pode ser plantado.
No final da reunião com a CJP, eles decidiram fazer uma reunião para discutir se seria uma associação ou um grupo.
Para me foi valido esta vivencia de tres horas, cada um se colocando, brigando,outros defendendo o Vasconcelos, outros atacando.
A riqueza, a aprendizagem do ser humano é adquirida neste coletivo de discussões. A minha esperança é que estes assentados consigam não muito longe, os seus importantes e tão pequenos desejos(para nos), que é poder ter suas casas e suas terras plantadas, isso é suas riquezas.

31/03/01

''Sentada esperando, comendo o que tem,
esperando o que de vem.'.''
(d. Nêga

Rua da Xereca, conversa com Magali Ana das Neves Barbosa (apelidada de Tuca), 32 anos 2 filhos e gravida de sete meses.Segundo ela , tinha pensado em tomar remedio para perder o filho, mais preferiu deixar nascer para depois dar a uma pessoa que possa criar, que tenha condições. Tuca é marisqueira , quando acha outra coisa para fazer não rejeita.
Ela marisca: ostra, sururu , siri, carangueijo. Vende o sururu por 3,00; ostra por 4,00.
Ela marisca no massapê, e as vezes, na Prainha
Hoje ela esta com dificuldades para mariscar por conta da gravidez. Tuca deu queixa do pai das crianças , porque ela queria que ele tomasse-as para criar. Segundo ela, o ex-marido tem medo da policia "gente do mato fica sismado."
Finalmente o homem pegou a criança,só que não dá nenhuma noticia de como estão as crianças.
Perguntada quais eram os outros serviços que fazia: arrumar casa, fazer faxina, varrer varanda, lavar pratos. Já trabalhou em roça, lá no Portão.
"A vida é um caso sério, a vida é boa, mais a gente tem que aproveitar a vida, enquanto tá dando chance, mais quando a vida passa pronto".
Perguntei-lhe porque a rua tinha este nome, disse que é por causa da "putaria"que tem todo dia lá (briga, discussão), nos explicou que o nome dela é Rua do Tanque, quem botou este nome feio, foi o filho de d. Laurina, o Ingui. Para reforçar o que tinha dito, relator que a vizinha tinha apanhado do marido, porque ele a pegou com outro no quintal.
Saimos dali totalmente devorados pelos mosquitos, pois as condições da casa (se é que assim possa ser chamada), é totalmente desaconselhada para um ser humano morar, fico mim perguntando, se realmente estas pessoas vivem, ou sonham que estão vivos.
Neste mesmo dia, pela tarde, fui conversar com dona Deoclecia (apelidada de Nêga) , 88 anos e 2 filhos. Pescava siri, amoré, peixe, pescava com muzuar, foi isso que fez na vida.
(Muzuar)bota isca dentro, deixa lá quando vai vê tá cheio de amoré,trata e faz moqueca e come, não acostumava vender .Criou muitos meninos, era parteira(em Monte Alegre, quase todos foram pegos por ela), já estão todos velhos.Quando a mãe tá com dor, a gente examina o menino, dai a pouco a dor aperta, pega ele, bota em um lugar, dá banho, e pronto., corta o umbigo, segundo ela, nunca morreu uma criança desses partos que fez. Se tivesse necessidade de sair para pegar criança, fora de Santiago, ela ia. Parou de fazer parto depois que ficou doente.nunca teve dificuldade nos partos.
O marido dela sempre plantou na roça, mandioca, aipim, batata, inhame, . Ela plantava a manaiba, e ele cuidava do resto, a farinha era paga prá fazer.
D. Nêga participavade todas festas em Santiago, dançava candomblé, foi filha de santo em Santiago, agora que deixou, fazia tudo isso, tinha santo.(Sultão das matas,Oxum, Janaina)."Voce já viu santo descer na cabeça de ninguem. "
O candomblé era na casa dela, não era mãe de Santo, que nunca fez santo prá ninguém,
era filha,"" vinha muita gente, para as festas, de: Coqueiro, Nagé, Cachoeira, todos vinha brincar aqui" brincava até demanhã, .
"Há minha filha, já brinquei muito, já dancei muito candomblé, muita dança, não vou dizer o que já fiz." Também dançava samba-de-roda, ia para as festas da igreja de: São Roque, São Tiago, procissão para todos ia.
Fez cabeça no candomblé, teve cabra, teve carneiro, galinha, galo, teve tudo isso. Depois que ficou doente, deixou tudo pró lado. O caruru de São Cosme, era feito todo ano , a casa ficava cheia.
"Já fiquei velha, vou labutar mais com, essas coisas? Deus me livre,Deus sabe quando tá no tempo,tem que aposentar eles não vão ficar toda vida na minha cabeça, nunca se sentiu mal depois que acabou. Tudo que faz vai prá frente,nunca prá trás. O candomblé o qual fez a cabeça era em Cachoeira, a Mãe de Santo já morreu.Ela não quer mais saber de santo, quer saber de Senhor da Bomfim, Nossa Senhora da Conceição, que é a dona da
cabeça dela. "Faz mal contar a vida , os santos reclama"
Enquanto ao namoro antes não era essa descaração,o namorado chegava , sentava, não tinha atracamento de hoje. Antes ele chegava, sentava com os pais, dali não saia, hoje andam o mundo todo sozinhos, prá baixo e prá cima. Eles estão casados há 68 anos., hoje ele tem 91 anos.
D. Nêga falou sobre as roupas de hoje, ficam de pernas de fora. Disse que antes as moças não podiam sentar no meio das conversas dos mais velhos, se caso temasse , apanhava.
D. Nêga trabalhou muito com azeite de dendê, começamos uma discussão, porque ela achava que eu deveria saber fazer azeite, porque ela aprendeu vendo fazer, eu disse que não tinha visto ninguem fazendo, como ela queria que eu aprendesse. Então ela resolveu ensinar."pega o dendê ,pinica, bota no fogão prá cozinhar, quando tá cozido, tira, cata,manda pisar, lava, e bate, apura o azeite.O cateté é quando o azeite tá cozido,tira a partede cima que chama de bambá, coa e tempera e bota prá secar pronto, ai
é só comer.
Trabalhou muito fazendo charutos,ponhe a capa de fumo, refugo, e capote.
Capote pinica e deixa.
A capa é prá enrolar o charuto, tira otalo,deixa ali barufado(úmido).
Enrola o capote por fora e a capa por dentro. Depois corta e bota em um lugar. Depois das explicações, ela mim perguntou se era assim. Ela não colocava o charuto na prensa, era enrolado no papel. Estes charutos eram vendidos em São Francisco. O fumo era plantado em Santiago.Como fazia com o fumo, quando estava no ponto (maduro), cortava, imprensava, deixava para curar(até ficar no ponto de uso). Ela tambem plantava fumo no quintal de sua casa.
Perguntei como ela saia de Santiago, porque não tinha estrada . "voce já quer o ferreiro com tudo em cima".
D Nêga nasceu na Ilha do Capim, entre São francisco e Santiago.
Antes tinha muitos mariscos, a gente pescava botava na janela, ninguém comprava, se dava mais do que vendia, segundo ela, os peixes sumiram todos, porque ninguem quis dá
nada, as águas. Só queria venha nós, mais não dava um presente as águas.todo ano eles botavam um presente, hoje ninguem faz isso não, todo mundo tinha, arranjava peixe, ela mesma ia para maré, voltava com o cofo cheio de siri, peixe,porque sempre botava um presente nas águas. "Quem não agrada, pode ser agradada? É mesmo que as águas, a quem as águas dá, elas tambem recebe."Todo ano ela ia de canoa, levada pelo marido, colocar o presente das águas. Quando voltava brincava até de manhã, isto acontecia no dia dois de fevereiro.Ela disse que quando tiver perto de morrer, pega tudo e arreia na água, mais não dá a ninguem, para acabar os compromissos, as águas deu, as águas leva.
Ela mantem dentro de casa; uma Espada, Preto Velho, Cosme e Damião e Santo Antonio.
O Orixa de frente dela é Oxum. Ela disse que Germano é um pai pequeno.
D. Nêga disse que desde menina labuta com esses negócios, ela disse que não quis ser mãe de santo "quem não sai, mais fica ali sentada, esperando, comendo o que tem, esperando que é de vem."
Ela nunca foi cortada para ser filha de santo no caso dela foi tirado uma moita de cabelo, e bota nas águas, ficava oito dias deitada, comendo coisas dos pés do santo( galinha, milho

D. Nêga virou para mim, afirmando que tinha carregado água na cabeça, mais era de seita, quando lhe disse que não era feita, respondeu que eu era preparada e bem preparada,"não sei quem não tá reconhecendo nos seus olhos, eu também ainda compreendo qualquer coisa minha velha."
Ela disse que o marido a tirou de casa, com vinte anos, se fosse com treze anos ela tava feliz.
Perguntada onde colocava os trabalhos, estes eram levados para o centro da pedra, chegava lá e arriava. A comida das águas era na água salgada, na pedra da bandeira perto de São Francisco.
Perguntei-lhe se realmente os santos bate em alguem"os santos não bate, mais dá castigo, quando a gente não faz as coisas direito, apanham para endireitar, este vem atraves de doenças, as vezes ficam em cima da cama sem poder se levantar."
Segundo ela, eu estou sendo castigada porque digo que não tenho santo, e acrescentou, quem não esta vendo em suas feições? A pessoa que tem, a gente conhece pelos olhos.
É D. Nêga, não duvido dos seus poderes, a sabedoria consigo mora.

Neste mesmo dia, passando pela rua Direta, descobrir o artista Raimundo Falcão Ferreira (apelidado de Mundinho), 33anos, 8 filhos. Fazedor de gaiolas, vendedor de quebra-queixo,planta roça. Faz gaiolas desde menino, no inicio todas saiam tortas, com o tempo foi acertando, foi aprendendo sozinho. Ele faz uma gaiola por dia, a madeira é tirada da mata,
corta,tira,deixa secar na propria mata, para trabalhar já seca, usa com plana, furadeira eletrica, o trabalho não é facil. Ele faz gaiolas por encomendas, e vende tambem avulso. A madeira usada chama-se paraiba. As gaiolas são vendidas, pelo preço de 3,00(tres reais).
Ele tambem vende quebra- queixo, que é feito com: coco,açúcar,canela, erva-doce, e frutas como:banana,abacaxi, amendoim. Segundo ele, o quebra-queixo é vendido mais na epoca do frio, mais também depende da pescaria, se esta tiver ruim a vendagem cai, porque as crianças gostam mais quem compra são os pais."até isso depende da pesca." Mundinho também já pescou de rede, munzuá, pescou siri de munzuá,não gostou para ficar direto, de vez em quando ainda vai. Na roça só planta mandioca, por que a terra só dá isso, esta mandioca é prá comer e vender a farinha.
Mundinho tinha algumas crianças que aprendiam com ele a fazer gaiolas. Tem um filho dele que já tem aptidão para isso, apesar de ser pequeno, pega no serrote como gente grande. Além da madeira paraiba, também é usada a tela da piaçava na gaiola,as gaiolas pequenas e grandes. As grandes são usadas para passaro preto, a gaiola pequena é para amansar passarinho bravo.
Mundinho também caça, ele sai as 7 horas, acompanhado dos cachorros caçadores que são tres a caça que ele especializado é tatu, o lugar que o cachorro chamar, ele tem que ir,pode ser uma grota(buraco), um corrego, um balseiro, o lugar que chamar, ele sai procurando o bicho, o lugar que achar, ele chama, temos que ir tirar o bicho que ele pegou, quando encova(entra no buraco) tem que cavar o buraco até tirar,a caça já vem morta. Segundo ele,
diferencia todos chamados dos cachorros, identificando qual é o bicho que esta acuado.
As maneiras de chamado é atraves de: grunido(tá na cova), latido(é sinal de bicho grande),
brigando(pegar), segundo ele cachorro que pega cobra e morde, não serve para caça,é um perigo para o caçador, os cachorros são treinados pelo professor(cachorro mais velho) eles ensinam até a pessoas que nunca foram ao mato caçar e esta indo pela primeira vez, ele disse que cachorro de caça não morde gente. A alimentação do cachorro de caça, não pode constar quiabo, nem pau de aimpim, porque perde o faro. O avô dele era caçador e passava algumas coisas para ele. Para ocachorro ter o faro de caçador, pegar-se um bisouro que tem no mato, mata e coloca na comida do cão para se desenvolver. O maior tatu, que existe é oPeba, ainda tem o Verdadeiro,o Rabo de Sola,Tatui, Casco Preto e o Tatui Bala.A paca é melhor caça do mato, é a mais bonita do mato, ela chega a pesar 11quilos, o macho é que cresce mais. Ele quase não pega paca, porque a caçada dele tem que ser pelo dia, logo cedo, porque ele não aguenta o sol, paca não anda de dia, por causa dos olhos, estes são quentes, se o sol bater neles, ele não anda nada, por isso, a presa é facil.Na noite ela corre muito, os cachorros não dão conta. A paca é um bicho de carne boa e mais cara do mundo. Segundo Mundinho , o mato não é sozinho, ele tem dono "no mato tem um cipo, se voce passar por cima, não vem prá casa, voce vomita, fica tonto, não consegue voltar prá casa"Mundinho falou sobre a caipora, quechama as pessoas no mato, com voz de pessoas conhecidas, se voce acompanhar a voz, se perde dentro do mato., perguntadose já levou levou o filho mais velho (11 anos), para caçar com ele, disse que só uma vez, o menino viu um vaga-lume, disse que era um gato de um olho só, nunca mais levou.
O peso de cada tatu é de 2ks, a 6ks depois de todo limpo, ele já matou até 6ks. O Tatu Peba come qualquer coisa, oquilo custa 3,00.o casco tem uma raspa que usa no defumador do cachorro para ajudarno faro. O Teiu não é dificil pegar, porque o cachorro desacata ele.
O Teiu tem que ser muquiado para fazer moqueca igual a peixe, ele é surdo,corre muito e vai direto pro buraco, ele não gosta do inverno, passa o tempo todo escondido, sem comer nada, só sai no verão, passa na areia quente para poder arrastar a barriga, só bebe água na beira do rio, para não se molhar.
As vezes olhamos para as pessoas e achamos que nada elas podem nos acrescentar,se formos humildes o suficientes, logo nos daremos conta de quanto aprendemos, quando paramos para conversar com as pessoas.
Pois é Mundinho, na nossa conversa, voce ensinou-me que a humildade, a inteligencia, andam de mãos dadas, não importando qual seja o lugar, nesta sua aula de temas variado, não tem nenhum doutor ou phd que supere a sua desenvoltura, quando o assunto é o tema de sobrevivencia, ou seja, a caça, a gaiola, o quebra- queixo.
Sai da caça e fui para uma outra maneira de caçar, só que esta é feita no molhado, e não no sêco, como a do Mundinho.Parei mais uma vez na Rua da Xereca, para conversar com Ilda, 26 anos, 5 filhos e marisqueira. Marisca, cata e vende, as vezes tira um kilo de sururu, ostra, leva prá vender, muitas vezes não da prá comprar o que comer, porque precisa de muitas coisas,o povo compra muito barato. Sururu 2,50; ostra 4,00. Vende o marisco prá comprar um peixe que é mais caro do que o marisco.Alimentação das marisqueiras é baseada na farinha, cafe, açúcar.Ela marisca no massapê, todos os dias "a vida da gente é essa, se for , a gente não come, as vestimentas são dadas pelo povo, os filhos tiveram pai para fazer,mais prá criar não tem,jogar fora e dá para os outros , não dou, tenho que lutar e viver assim, crio meus filhos, prá mais tarde eles mi criarem, criança pequena tá crescendo,e a gente tá diminuindo."
O ex-marido dá despesas dos tres filhos, ela marisca prá criar os outros dois, que os pais não querem saber. O pai dela morreu mariscando, a mãe criou todos no marisco, hoje em dia a mãe arrumou um marido no Caimbongo, e mora lá. A filha mais velha tem 11 anos e a menor 1 ano.
Ilda prefere a maré do que a enxada.Ela disse que antigamente tinha uma cesta basica, para quem tinha criança de 0 a 3 anos, dada por d. Nenem.
Ilda tem tres filhos que estão na escola
Quando a maré é cedera(cedo) ela sai 6 horas, Quando é tardera(tarde)sai as 7 horas.
Ela disse que um rapaz gostou dela, fez o filho, arriou de barriga, a mãe não aceitou., por isso, seu maior sonho é comprar um terreno para fazer uma casa, principalmente para os dois filhos que o pai os abandonou. O impressionante é como Ilda tem o pensamento sempre virado para o bem estar dos filhos, não importando o lugar que viva, para ela, eles estão sempre em primeiro lugar.
Dai fui conversar com Milota, sobre a comédia, que sempre houve no São João, era comédia de escola para os alunos fazerem apresentação, e tambem para angariar fundos, para pintura da igreja ou entidades. Todas pessoas que iam assistir a comédia,pagavam uma taxa. Cada grupo apresentava um tipo de comédia.
Tinha a TAPUIA (india) era abertura; depois a semana; jogo de futebol, apresentando os times; arrumadeiras; verdureiras(quitandeiras); corveiros; patria; enfermeira; medico; jogo de bicho;pretinho dengoso(tinhaque ser bem preto); se não fosse pintava de carvão; as baianas; o marido preguiçoso. Segundo ela, era uma forma do povo encarar o dia a dia.
A TAPUIA ficava em uma gruta, o caçador vinha para fazer a caça, procurava e não encontrava nada, então colocava a espingarda no ombro e cantava:
"O sol no horizonte, não surgiu ainda, e eu preguroso as matas busquei,
labaro ocidente, ele se dirige, e eu nem a caça se se que encontrei."
A TAPUIA lá de dentro cantava: "ousado viajante, aqui não há caça, só existe a TAPUIA, e os de sua raça(bis).
Ele cantava "formosa TAPUIA, que andas perdida, nas matas sombria de agreste sertão,as matas são feias,são tristes de frias, podendo tão moça, morrer de sezão"
Ela: "eu não quero carinho, eu na mata nasce, se dela não gostas, não venhas aqui"
Ele se apaixonou por ela dentro da mata, ai cantou:" bastas TAPUIA, não fique zangada, não diga mais nada, não tenha maldade, eis-mi aqui prostado, aos teus pés não fuja, por Deus eu te peço, dai-mi o teu amor"
Ela:" sou pobre TAPUIA, porém tenho valor, não me entrego o ouro, me rendo ao amor (bis)
Antes ele oferecia ouro etc..., ela não aceitava, só se rendeu ao amor.
Todos tipos de comédia citada no começo, tem sua música, que foram gravadas.

24/04/01
Neste dia, foi marcado por JOCA, uma reunão para se começar a discutir sobre uma possivel criação de uma Cooperativa de pescadores. Eu e Felippe saimos de Salvador logo cedo, a reunião estava marcada as 9hs. Mais esta só começou as 11 hs, por que os pescadores estavão chegando da pesca, o número foi razoavel pra uma primeira reunião. O Felippe explicou qual o objetivo desta reunião e a importancia de criar uma Cooperativa, ao tempo que deixava claro que se eles não se movimentasse, não aconteceria nenhuma Cooperativa,nos só estariamos neste barco, se eles começassem a remar primeiro. Como o horario era ruim para todos, foi tirado por eles, que teriamos uma outra reunão no dia 19/05/01, as 19 hs na sede.
Dia 19 /5/01 Lá estavamos nos mais uma vez reunidos para continuarmos com a discussão em torno da cooperativa,o número de pescadores já era maior,começamos tentando saber atraves da apresentação de cada pescador, saber porque ele estava ali, para, através disso, começarmos a conversa sobre o assunto pelo qual todos estavam reunidos. Houve depoimentos sobre os ancestrais pescadores e por isso o orgulho de hoje eles também estarem nesta mesma arte. Houve depoimentos sobre nosso trabalho na cidade, aplaudindo o fato de não estarmos ali fazendo política partidária. Temos na comunidade uma pessoa que para mim é um líder. O orgulho de saber remar, jogar a rede, nota-se quando começa a falar, a sua família toda pesca, é com ela que todos são sustentados, esta figura ímpar chama-se Tico, filho de D. Marlene. Depois de boas intervenções de Tico e de mais alguns pescadores, foi explicado pelo Prof. Felippe, que lá mais para frente, alguns filhos de pescadores poderiam fazer cursos de gerenciamento para dirigir a cooperativa. Isso seria feito com o apoio da UFBA. Ele também sugeriu que tirassem uma comissão para quando o grupo do projeto chegasse, nos colocariam a par do andamento da mesma.
Dia seguinte, Joca ------------pág.20-------os nomes da comissão, sem mesmo ter discutido com os outros pescadores. Saímos dali preocupados com que poderíamos -----pág.20--------
esta comissão sem parecer que estávamos nos intrometendo.
A viagem do dia 29/04/01 foi exclusivamente por conta de um convite feito por Joca para participarmos de uma reunião de pescadores que aconteceria às 9h no Centro Cultural. O assunto deste convite era para discutirmos (Nalva, Felippe e pescadores) sobre a criação da cooperativa de pescadores. Chegamos no horário marcado, esta só começou às 11h. Tivemos que esperar os pescadores retomarem da pescaria. Não foi bem uma reunião, mas um bate-papo inicial, o que já era grande coisa. Ficou claro que, durante o dia, não deveria acontecer essas reuniões por conta do trabalho dos pescadores, então juntos marcamos outra para o dia 19/05/01, às 19h, agora na sede da Associação dos Moradores.
No dia marcado, mais uma vez, estávamos presentes com alguns alunos do projeto. Neste dia, a presença dos pescadores foi maior, inclusive houve depoimentos parabenizando a conduta da UFBA no local (grupo) por estar fazendo um trabalho sem politicagem. Nesta reunião falaram sobre a importância da cooperativa para eles. Foi falado da importância dos filhos de pescadores tomarem um curso de gerenciamento para que estes fiquem à frente da direção da cooperativa e outra coisa era tirar uma comissão de pescadores, para que sempre que o nosso grupo estivesse em Santiago, se reunisse conosco, passando as informações tomadas por eles em reunião geral.
Viagem de 02/06/01. Caminhando pela Rua Monte Alegre e adjacências, paramos na porta da marisqueira Isabel (Pili), 43 anos, 8 filhos e 5 netos, que estavam limpando o marisco tirado do mangue naquele dia (sururu). Ela havia saído às 5:30h da manhã para o mangue, voltando às 12h. Segundo ela, em casa não tinha nada para almoçar, teve que sair mais cedo por isso. Ela como as outras, vende o quilo a R$2,50 (dois reais e cinquenta centavos). "A quantidade de marisco que pegamos é muito, o dinheiro que é pouco." Ela sustenta as crianças com o marisco.
Segundo ela, o que atrapalha mais para mariscar é o vento. Se tiver ventando não pode atravessar, o sururu é o marisco que quanto mais tira, mais diminui, é um marisco atrasado para mariscar, já a ostra rende mais. "Eles aqui gostam de meter faca na gente." Todos os compradores que só compram barato, "a gente pega um bocado de marisco na hora de comprar o pirão, nunca que o dinheiro dá, é mais vantagem comer o marisco!"
Perguntada se já se uniram para estipular um valor para a venda, ela respondeu que não dá porque os compradores combinam com o outro para todos comprarem pelo mesmo preço que eles querem dar. "Aqui é assim, tem que viver humilhado, enquanto eles quiser. Agora, quando Deus quisé, a gente vai mudar de jeito." Segundo ela, não tem possibilidade de juntar o marisco para vender fora, ela tem um freezer, mas acha que se fizer isso, vai ficar em falta de café, pão, açúcar, etc…De qualquer jeito, tem que humilhar a eles, se tivesse como sobreviver de outro lado daria para juntar. Por isso não tem como se associar. Neste dia, ela saiu sem deixar nada em casa, quando voltou, teve que comer (o próprio marisco). O restante ficou para a noite, amanhã só Deus sabe. "Eu marisco desde menina, não lucrei nada da maré, só a velhice está chegando." Ela pesca peixe, camarão também. Neste dia só pegaram 300g de camarão. "Não podemos chorar, a gente dando risada é que alegra, se for chorar é que entristece mais." O sonho de Pili é ter um emprego certo porque, enquanto tiver vendendo marisco em pontinha de venda, fica difícil. Ela marisca com um sapatão de pano feito por ela, para não se cortar na mariscagem. Se não tiver atividade, (for esperto) se corta. Ela não vive só de mariscagem, bota lenha para vender os feixes por R$3,00 (três reais), se achar roupa para lavar de sobra, também faz (já lavou muito). Hoje está um pouco difícil. Para ganhar dinheiro, qualquer trabalho é trabalho.
Desta conversa com Pili foi que surgiu o convite para as marisqueiras participarem da reunião com os pescadores. Os mariscos são vendidos lá pela Rua Monte Alegre para D. Noca, Dino, não tem comprador certo, qualquer um é um, só o camarão é que o marido vende para Caboclo porque a canoa é dele, ele não cobra aluguel, agora, o camarão tem que ser vendido para ele. O preço varia entre R$4,50 e R$5,00, vai depender de como ele quer pegar. Temos que aceitar do jeito que eles queiram. A rede é do marido dela. "Eu me sinto triste do preço do marisco, a gente sai cedo, a lama fria, toma uns carocinhos de chuva na maré, chega e vende de R$2,00 para ela é uma tristeza." Pili era uma das maiores sambadeira de samba-de-roda, agora virou cristã.
09/06/01
Conversa com sr. Osvaldo Barradas, apelidado de " secante", 71 anos, 20 filho. Trabalhou no mato, em fazenda cortando lenha, madeira, depoios viajou embarcado. Depois de velho passou a trabalhar em firma em Salvador, até ter acontecer dois acidentes. Na roça o trabalho era de cortar lenha de metro, carriar madeira dentro da mata com o animal para o porto. Saiu de Santiago para São do Paraguaçú , pegou familia lá e veio para Santiago. Viajou embarcado uns 15 anos, (na epoca que não tinha rodagem para varios lugares), trabalhou tres anos, tirando areia de dentro do rio de Cachoeira para levar para Mataripe de barco, depois disso foi para Salvador, levando tijolo, broco tudo isso no barco, até para a fabrica da Suerdick. Cachoeira vinha carga do sertão para os barcos de Artur Pires, vinha de Salvador para Cachoeira , como ia de Cachoeira para Salvador, carregado de : mamona e fumo . quando isso acabou, ele foi para Salvador, trabalhar de servente em obras, por 3 anos. Depois aprendeu a profissão de pedreiro, trabalhou na firma Promove, Targini, Cansic, Noberto Odebrech, voltando depois para Santiago. Ele acha que Santiago de uma maneira esta melhor, porque tem rodagem, que antes não tinha, antigamente iam andando para Cachoeira, gastava um dia para ir e voltar. Perguntei-lhe se já pescou, nunca gostou dse pescaria, nunca foi amigo da pesca. " não tem futuro, os meninos modernos tudo se acabando na pescaria, qual é o futuro que tem? Nenhum, é tomar cachaça, chegar tome cachaça prá dentro , se acabando, nem de fazer uma casa, não tem .não tem calor no corpo para sair e trabalhar, vai na pescaria, se apanhou, apanhou, se não , chega em casa, toma banho, comeu e vai dormir o dia todo."
Sr. Osvaldo gostou muir\to de festas quando era moderno,as festas eram de dançar juntos, não era como hoje de tá pulando, batendo cabeça, batendo bunda, as musicas era: choro, bolero, samba-canção, ele disse que não achou jeito foi em samba- de- roda, nas festas tinha duas duas bandas de musica, que vinha de Saubara e Cachoeria.
Perguntado sobre religião disse que não acredita em igreja, gosta da palavra de Deus.
Sobre educação dos filhos disse que não aprenderam porque não quiseram, ele nunca empatou de irem para poder trabalhar, ele tem noção de que o pai que não bota o filho para estudadar vai preso, ele tem um filho de menor que estuda lá, disse que uma hora vai querer vê o caderno para ter certeza que ele esta indo mesmo para escola.
Sr. Osvaldo tem um beneficio(encostado), devido o acidente que teve com a perna, ele caiu de uma cumieira, carregando um balde cheio de massa, esbagaçando a perna, foi operado tres vezes, colocou platina, ele uas moletas, batalhou para conseguir um salto para andar dentro de casa, além disso ele teve um outro acidente no olho , estava batendo um prego na parede, este pulou vindo atingir a vista dele. Alem de tudo isso sr. Osvaldo junto d. Lelinha sua esposa , plantam em um terreno arrendado , pelo qual paga 60,00 reais por ano, a produção no terreno é de : mandioca, aipim, batatinha, amendoim
D. Lelinha acabou de ser aposentada por idade, ela tem 60 anos, ela já mariscou muito, hoje é que não tem mais condições , esta com pressão alta, tontura, diabete, segundo ela esta cansada,já lutou muito, além de ter tido 17 filhos todos em casa com parteitra.
Os dois falam com orgulho dos 40 anos que estão juntos, o sr. Osvaldo sempre foi de aprontar, mais ela disse que já esta acostumada.
Perguntado como era o namoro de antes ele respondeu: "antigamente beijo no namoro, só se fosse em uma festa, porque dentro de casa não, hoje estou vendo é pendurado na frente dos pais., infelizmente ficou todo mundo atoa, na minhas vista fazer certas coisas não."
Antigamente os vestidos era cobrindo os joelhos, se tivesse que atravessar um rio, molhava o vestido, mais não levantava, hoje elas tiram é tudo, não nem ligando. Quando o rapaz queria namorar uma moça, elas levavam tres meses para dá a resposta e depois disso ainda estava indecisa, hoje, logo depois que fala já esta mordendo, as vezes nem precisa falar.
No final a conversa foi para a estrada segundo ele ,colocaram 90 caçambas de arenoso(barro) foi pior, " o povo não vai para a porta da prefeitura porque tem medo, o povo aqui são carneiro, O prefeito gosta muito de festa, olha o erro do povo, não elegeram nenhum vereador daqui, foram comprados." Sr. Osvaldo deu uma resposta a uma pessoa que queria comprar seu voto por 20,00(vinte reais) " eu sem este vinte , venho passando o tempo todo,não é com esse 20,00 agora, que vai dar para
passar, este não serve prá mim.
Ele diz que os filhos nenhum puxaram a ele, porque até agora não tiveram filhos, ele começou com 17 anos. Quando falei que sua filha tinha tres filhos,respondeu que era a parte de mulher que é a parte mais fraca, mulher vai no engano. Segundo ele teve muitos filhos porque naquela epoca, só existia radiola a manivela, que rodava e rodava , depois botava o disco.
Sobre o apagão, ele disse que não se importa , se quiserem, corte a luz, ele foi criado sem ela, vai comprar um candeeiro, quando foi morar com d. Lelinha tinha um candeeiro de bojudo na sala,e outro com cupula pequena, que era do quarto, o fifó para cozinha, não passava.?
ACM vive escolhambando o presidente,ele quase não tem voz de fazer nada, toda hora ele toca o nite.No tempo de Getulio Vargas, ele dizia é isso, e não tinha quem desfizesse, quem mandava era ele, agora senador e outros faz o que querem, o presidente não tem autoridade.
Nos da cidade grande muitas as vezes não valorizamos este povo, nem o que pensam, estamos muito enganados, por acharmos que só nos sabemos, esta lição de vida eu tenho e tento ser uma boa aluna aprendendo tudo que estes professores, com sua humildade passam para mim ser saber que estão contribuindo para que eu seja um ser humano cada dia mais ser humano.

Neste mesmo dia, houve uma reunão mista ,pescadores e marisqueiras, para mais uma discussão de amadurecimento em relação a cooperativa, lá estava 19 marisqueiras e 16 pescadores, um numero razoavel para uma primeira reunião conjunta. D. Pili(marisqueira_), revoltou-se segundo ela com o pequeno numero de pessoas presentes.
"A gente já tivemos aqui varias reuniões sobre estes projetos, tiveram atravessadores que comeram o dinheiro, era pra vim uma rede para cada um, só veio duas redes."(pescador).
" Meus filhos precisam de tudo, conforto melhor, não temos condições de dar a eles o que precisam,um estudo melhor, não temos como dar,vendemos os mariscos, pelo preço pequeno, quando chegam em Salvador, vendem por preço maior do que deviam, estão tirando de nos, e enriquecendo nas nossas custas."(Ilda -marisqueira, da rua da Xereca)
Ainda continuo Ilda, muitas as vezes os filhos deixam de ir a aula por não ter chinelos,criticam porque não foi, não sabem o que passamos para sustentar os filhos, eu luto pelos meus filhos, eles não pediram para vim ao mundo, trabalhamos na maré até a hora do filho nascer, comigo quase que nasceu lá, essa é uma vida que ninguem reconhece.
" Compradores ganham em dobro, nos pescadores de rede de arrasto, vendemos camarão a 30,00(trinta reais ), eles vendem de 60,00 a 80,00 o balaio, eles só faz subir, e nos só faz descer, e não temos nada, o que ganhamos é prá comer e mal." (Ivan - jovem pescador)
" A questão da união, nos pescadores somos culpados de estarmos nisso ai,que estamos, se não tiver união, fica tudo no zero."(pescador)
" Para ter uma cooperativa, tem que haver uma linha de frente, quem é essa linha de frente? Que até agora não apareceu, temos que reunir mais vezes com voces, para poder todo mundo falar, as pessoas tem que falar o que acha da cooperativa."(pescador)
"Uma cooperativa é um trabalho demorado, é como se fosse um menino engatinhando, não é feita de um dia para noite, é um trabalho sério.(Tico- pescador)''
O Tico provocou as marisqueiras, que ela estavam muito caladas, ao mesmo tempo que perguntava cade os pescadores do Iguape, a população de Santiago hoje, todo mundo vive da pesca. Tico ainda provocou dizendo que "Não temos que aceitar o que eles querem ( nos da Ufba)não é assim não, temos que aceitar o que a gente quer, isso aqui é nosso, voces perguntaram a eles, qual é o objetivo deles? Tem que entrevistar a eles tambem, para saber se são um grupo verdadeiro, forte, vamos aperta-los, podem ser um grupo enganosos, voces não perguntaram nada, eles entrevistam a gente, e nos tambem podemos entrevista-los, saber o que desejam, já estamos cheios de pessoas corruptas e enganadores, esta é nossa vez esse grupo aqui é nosso."(Tico)


10/06/01

Conversa com Jarinho, sobre a vida de Santiago, ontem e hoje. As pescas esta ruim, as bombas, a camaronzeira estão matando a criação, as camboas de pau tambem mata, principalmente no mes de setembro quando acontece a desovação, ai ficou ruim a pescaria. Depois da camaronzeira, não ligam para desovação, até siri pequeno pegam. Jarinho já pescou muito, já deu muito peixe.
Perguntei-lhe o que é camaronzeira (rede para pescar camarão, feita de nailon) esta sai varrendo todos camarões, em Santiago tem uma base de 100 camaronzeira,quando ela bate mata todos camarões, antes ela não existia,só pescavam de rede de arrasto, que antes era feita de cordão, que hoje tambem é de nailon, é uma rede que bate em 3 (tres) lance, puxou prá trás, não fica o tempo todo,bota 2 a 3 lance pronto. A camaronzeira, fica de baixa mar,
fica correndo de baixo para cima na maré, o pescador não precisa segurar a rede, é só colher os camarões. Esta rede sai varrendo por baixo do mar, com esta basta uma pessoa para pescar, a rede é com varios.
Jarinho tem 4(quatro ) canoas e 2(duas) redes grande de arrasto, as redes são passadas para os pescadores, a divisão é que os pescadores ganham 2 partes, e Jarinho 1. Exemplo:se tirar 300,00 (trezentos reais), 200,00(duzentos reais ) é para eles e 100,00(cem reais), para Jarinho, cada um leva a sua moqueca. Jarinho compra o peixe dos pescadores que pescam em suas redes, e de outros que queiram lhe vender, ele compra: camarão, xangó, ostra, lambreta, sururu e o que aparecer, estes são vendidos em : Feira de Santana, e no Cia.
Antes tinha muito peixe, não não tinha esta exploração de tanta camaronzeira, o pessoal preservava mais, as redes eram de cordão, tinha horario de pescar. Depois da pesca as redes tinha que vim prá terra, para tintar (botar tinta de sapateiro), para fortalecer o cordão.
A camboa de pau mata muita desova de camarão, robalinho tambem, entrou ali já morreu.,
ela é feita de madeira, os pescadores quando a maré esta baixa, passa o gereré e apanha.
O trabalho das marisqueiras é um pouco pesado, porque tem que tirar ostra, sururu, tem que sair cedo, no da maré, tirar ostra , ferventar, catá, para vender. O siri que é tirado de gancho tambem é trabalhoso,quem não conhece a loca, não tira um siri,é dificil. A maioria vive disso, não tem outra coisa.
Segundo Jarinho, os rapazes não estão interessados na pesca, vão porque não tem outra coisa prá fazer.
Segundo ele, antes da estrada, Santiago tinha tudo, tinha 4 estaleiros movimentado, fazendo barcos, tinha mais de 20 barcos carregados de milho, verdura.
Uma festa em Santiago levava 8 dias direto, com um bocado de filarmonicas tocando, todo mundo tinha dinheiro, tinha um comercio grande. Os barcos vinham cheios de mercadoria, e saia cheios.Jarinho viajava desde os 13 anos, a sua vida foi embarcadiço,viajava prá Salvador.O pai dele tinha barco, geralmente saia uns 15 barcos do cais, as quartas, aos domingos, e as terças, todos carregados de milho. Saia as 5 horas da tarde, quando era as 3 horas da madrugada estava lá, quando tinha vento, era mais rápido, nesta epoca, se ganhava muito dinheiro, segundo ele, a estrada não foi vantagem , nem para Santiago, nem para Maragogipe, corria muito dinheiro.
Jarinho disse que ganhou muito dinheiro naquele tempo, negociava com porcos, levava 25 a 50 porcos, prá vender, todos criados na rua.
Naquele tempo tudo era canavial, cortaram as canas e plantaram dendê. O proprio Jarinho já fez azeite -de-dendê, para uso proprio.
Enquanto ao comercio, Santiago já teve: lojas tecidos, farmacias, açougues, funerarias, armarinhos,e 4 estaleiros que empregava 40 a 50 pessoas, era construção direto de barcos. O pessoal de Nazaré, Maragogipe, Bom Jesus dos Pobres, Coqueiro, todos encomendavam barcos em Santiaago. Tinha muitos barcos, era tirando cana, açúcar da Usina, carga, carregando fumo, trazendo blocos, areia, eles saiam carregado de farinha, carangueijo, galinha, carneiro, porcos, charutos, genipapos, tudo isso, ia para Agúa de Meninos, feira de São Joaquim.
Segundo Jarinho, sr. Osvaldo Luz (dono da Opalma), fez estrada até os dendezeiros dele, não queria que ninguem passasse,para ir até Santiago, tinha que tirar uma ordem na entrada do portão.
Jarinho lembra das viagens com muita saudades, " as viagens era gostosa, saiam de Salvador, as 12 horas de sexta - feira, quando dava 4 horas da madrugada, chegava, pegava aquele feijão gostoso no caminho, era jogo de dominó, bate papo.Sobre as festas, ele disse que a entrega da bandeira era uma festa.tinha festa dos coroas, dos jovens, dos meninos, era banda direto tocando. Hoje não tem mais nada.. Na casa dele, o pai rezava para São Pedro, era tanta bebida, ele botava balaio de camarão seco em cima da mesa prá turma comer, matava porcos, era muita gente. O apelido do seu pai era Cabrito.
O barco mais famoso de Santiago era Cabrito do Macapau, era o que andava mais.
Jarinho lamenta que tudo que havia em Santiago, a exemplo do milho, tem que comprar fora. " isso é o progresso."
Todo mundo tinha seu pedaço de terra, Osvaldo Luz, veio e passou pé em tudo, o povo foi perdendo, acabaram indo para Salvador. Engenho Embiara, Engenho da Praia, Engenho da Ponte, Calembar, tinha tantas casas, hoje tem uma aqui e outra longe, no fim do mundo.Engenho da praia tinha até igreja, Osvaldo Luz , foi comprando as terras, e o povo foi tudo embora.
Perguntei-lhe se tinha brega,disse que antes tinha no porto, depois foi lá prá cima. Quem primeiro colocou brega , foi Chiquinho Bem-te-vi, por isso esse estabelecimento tinha o mesmo nome.A dona Ana que morreu este ano com 74 anos era a dona do brega no porto.
Os meninos que frequentavam, vinha de Candeias, Simões Filho,de Santiago eram poucos, os homens casados frequentavam o brega, segundo ele, lá não precisa mais disso.
Jarinho falou sobre a rincha entre São Francisco e Santiago , era uma polemica braba, os rapazes de Santiago, não dançavam com as meninas de São Francisco, isso vinha muitos anos.
" Seu Miranda era o médico, quando alguem quebrava o braço, era ele que encanava com tala de dendê, não tinha gesso, ele costurava os cortes com pontos de metal. Vinha com o alicate e apertava , mais o pior era no dia de tirar.""
A sentinela em Santiago antes era cantada, " nos pés de senhor dos passos, apareceu uma imagem, uma imagem aparecida ou meu Senhor do

Bomfim."
Historias:" tinha um gato preto que começava pequeno, e ia crescendo, não tinha homem que passasse no lugar."
Esta entrevista terminou para variar com samba- de roda na palma da mão.
" Ou lê lê,lê ou lá lá lá
eu lhe amo, voce não mi ama,
voce só mi ama, quando eu lhe amar.
Eu converso, voce não conversa,
voce só conversa, quando eu conversar.
Manina me dê um beijo, nemque seja no pescoço
me dê na ponta da lingua
no lugar que não tem osso.

"Eu vi a ema, lá na lagoa,
menina diga a seu pai que não coma
de talher , que ele esta pra ser meu sogro
e voce minha mulher."


" A ê chofer,tá na hora do carro parar
eu tava na beira da linha
torrando farinha pró carro pegar"


"O guarda civil não quer, a roupa no
cuarador, (bis)
meu Deus onde vou cuarar
cuarar minha roupa"...


07/07/01

Nesta viagem houve uma avaliação a noite na pousada, com os meninos de Santiago, que participam do projeto. Dia seguinte houve uma oficina com as crianças , no Centro Comunitario, na qual o entusiasmo e a criatividade floraram, só veio confirmar que precisamos dar mais espaço para estas pequena pessoas, que logo mostraram para que ali estão. Paralelamente acontecia no mesmo espa,co, uma oficina de poesia, onde o número de jovens nos alegrou, com suas presenças, para mim foi muito claro, que estes estão precisando de atividades para mostrarem, toda sua criatividade, ao mesmo tempo que precisam de incentivos para desinibir-se.

28/07/01

Estava anciosa para conversar com sr. Jeronimo(apelidado de camarão) 78 anos, caçador que matava: paca, tatu, catitu, quati, sariguê, prea. O bicho que ele mais gostava de matar, era a paca e o quati, porque a carne é separada, voce pode retalhar, fazer uma carne de sol, moquiar e guardar, por isso não tem nenhuma igual a essas caças. A sua vida era viver no mato, segundo ele , é todo assinalado de cortes, tem um espinho na perna, ele tirou todos, mais o da perna não tirou, prá quando morrer levar, para mostrar a Jesus, ele não doi, não faz nada.
" Eu digo aos meus amigos, temos tudo na vida, os melhores remédios, é aqueles que a gente pega no mato." A entre casca de Parnapenam é um santo remédio para colesterol; A Cainana Verdadeira, é boa para garganta e reumatismo; A Cainaninha é boa para reumatismo; O Espinho Cheiroso da mata, é uma beleza para fazer um chá com cachaça,faz mixido, é bom prá o sangue, dor de ouvido, dor de cabeça, vai correr o corpo. No mato tem varios folhas que dá prá tudo, folhas que quando tomamos um chá, se banha de suor, se botar o suor prá fora, é porque ela é boa, " os meus curativos sempre é com meus cavacos do mato, minhas raizes de paus, meus negocios, não perdôo, eu faço litro de chá com Favaquinha de Cobra, Tioiô, o Fedegoso, junta tudo faz o litro de chá,e vai tomando como água." O que ele nunca gostou, foi de chegar na venda, tomar cachaça, cerveja, acha que se tomasse cerveja, já tinha morrido, o povo diz que boa, mais para ele não, prá ele , o que é bom, é raspar o Fedegoso, botar em um prato, colocar um pouco de cachaça, tocar fogo, fica aquele caldo vermelho, prá voce que tá com dor de cabeça, febre, tomar e aquilo desaparece. Não prá todo dia , tomar dois dedos de bebida, segundo ele se bebesse já teria morrido, porque ele é muito fraco., como não bebe, se acha forte, tem 78 anos, já comeu um bocado de farinha. O seu trabalho era bater machado o dia inteiro, quando chegava na casa do mangangão, não tinha dinheiro para pagar inteiro, nunca brigou por isso, o mesmo ele fazia na venda, quando ia pagar." Para tudo na vida existe acordo, e o acordo do mundo é o acordo grande, que nos temos que confortar comele."
" A gente não vive sozinho, ninguem vive sozinho,ninguem anda sozinho."
Todas essas folhas dão prá remedio, agora não somos adivinhos, aquele Cansanção Vermelho, a gente arranca ele , tira a raiz, faz um xarope, para uma gripe.Aquele Carrapicho, arranca pisa, bota azeite- doce, dente de alho, faz um remedio para mordida de cobra.
" A derrota de todo nos, é nossa lingua, o que vemos devemos deixar lá."
Quem levou seu Jeronimo para o mato , para caçar foi o seu pai, ou seja, pai passando de pai para filho, porque o filho de seu Jeronimo é Mundinho, tambem caçador. Segundo seu Jeronimo, a maoir vitoria de caçada dele, era os cachorros que lhe acompanhava. Segundo ele, tinha aqueles animais, como suas criações, mais quem criava era Deus e lhe orientava para fazer essa derrota, com os bichos, e levar para casa para comer, se ele não precisasse não ia caçar.Cansou de ir para casa de farinha e levava quatro pacas muqueadas, e até os camaradas comiam, ele achava que não era mal caçar. Seu Jeronimo disse que tendo tatu em casa, já lhes livram da venda.
O IBAMBA( Ibama), ele não tira da razão, tem os filhos (bichinhos)o povo toca fogo na mata,nos perde, porque mata os filhos, e ai fica sem condições.
Seu Jeronimo fazia e vendia quebra-queixo,segundo ele ,era muito bom vendia 4 a 5 ks.por dia, ele tinha uma cantiga que quando cantava, os meninos saiam todos para comprar.
" Olha o quebra gereba, quebra com que quebra
quebra tudo hoje,amanhã nada quebra
amola dente de gente velho,
quebra dente de gente moderno,
eu falo assim pró velhos não ficar zangado,
e não cair de queixo- quebrado,
moça da canela fina,
come quebra gereba, amanhece de canela grossa,
velho da barba branca, come quebra gereba,
a barba amanhece preta,
faz a barba ficar nova em folha,
isso é que é uma vitamina,ri...i...hum!
chegou o caboclo cajueiro, vende o quebra-queixo
e recebe o dinheiro."
O povo reunia e vamos cortando e vendendo," chega fregues, vem comer o quebra gereba,a vitamina do quebra gereba, vamos comer mais."
Segundo ele, tinha essa papagaiada toda e vendia, hoje se fizer uma bandeja de quebra -queixo, não vende, porque tem tanta coisa. O dinheiro corria direto, vendia 4 a 5 ks. Lá em São Francisco. Naquela epoca o povo tinha alegria, diziam que o dinheiro era menos, ele acha que era mais, esse menos dinheiro, todo mundo tinha, hoje, é mais dinheiro,mais ninguem tem.esse Real é um cativeiro, que o presidente botou no mundo. A gente não faz com um Real, o que faziamos com o cruzeiro, não é todo mundo que tem ele, não é todo mundo que pode juntar, para ter Real, só meus senhores dono de armazem, ou quem for bem empregado, assim mesmo, empregado se rela. O Real, deu consomição para as pessoas, não é um plano bem planejado, que tenha deixado a pobreza satisfeita, a pobreza tá cosumida.
"Nos todos temos um estrela , eu mim conformo que a nossa estrela tem devolutivo,
aquela mais acesa é de rico,
aquela mais apagada, é dos remediados
aquela fininha, miudinha que a gente nem enxerga,
acho que é dos pobres.
Seu Jeronimo, fazia cordão de batucada no carnaval, com 30 tambores, quem comprava os
tecidos para fazer as roupas para os moços era ele. Tambem foi presidente do vasco, durante 38 anos. Perguntei se sambava samba-de-roda. Ah! Minha senhora, .....a senhora
a samba o que é um samba.
" Rapaz, rapaz, rapaz..
paga o dinheiro da moça,
embora não vai lá mais,
boa palavra rapaz...
A mulher do malandro, sabe ser...
carinhosa de verdade, ele é
carinhoso para ela, fala mulher
do malandro."

" Agora que eu cheguei, já mandaram eu trabalhar,
com a enxada pesada(bis)
prá acabar de mim matar
tum,tum, tum, bateu na porta
tum, tum, tum vai vê que é
quem bate pandeiro é homem
quem sapateia é mulher
deusa...."
Seu Jeronimo, tambem compunha, fez uma canção que segundo ele, o povo ficou entusiasmado, este foi para a mulher dele.